sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

A importância de um propósito na vida!

A célebre máxima de Lewis Carroll, proferida pelo enigmático Gato Cheshire, “Para quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve”, transcende a singeleza de um conselho casual e se configura como uma aguda reflexão filosófica sobre a necessidade da orientação e da clareza de propósitos na existência humana. Longe de ser uma trivial observação sobre a aleatoriedade dos caminhos, a frase aponta para a essencialidade do direcionamento consciente das ações, sob pena de se cair em um errático vagar sem destino.
Na ausência de um horizonte bem definido, todas as escolhas se tornam equivalentes e, por conseguinte, desprovidas de significado. A falta de um norte transforma o percurso em um deambular arbitrário, no qual as decisões não obedecem a um critério estruturado, mas apenas ao acaso ou à contingência do momento. Aquele que não estabelece um objetivo para si está vulnerável a ser conduzido pelas circunstâncias, incapaz de exercer domínio sobre seu próprio destino.
A importância de um propósito claro não reside apenas na ordenação lógica das escolhas, mas na própria tessitura do sentido da vida. É a definição de um fim que dota o percurso de substância e que permite a construção de uma identidade coerente e autêntica. Somente quando se tem um objetivo bem delineado é possível empreender esforços de forma direcionada, transformando cada ação em um degrau rumo à realização pessoal e intelectual.
Dessa forma, a lição do Gato Cheshire revela-se não apenas um alerta contra a inércia da indefinição, mas um convite ao exercício da autodeterminação. Aquele que se abstém de escolher um destino acaba sendo escolhido pelo destino alheio. Assim, longe de se entregar à deriva do acaso, é imperativo que cada indivíduo reflita sobre suas aspirações e trace seu próprio itinerário, garantindo que sua jornada não seja um mero errar sem sentido, mas um movimento intencional rumo à plenitude e ao autoconhecimento.
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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Boulder - Eva Baltasar na Relógio D'Água

 A trabalhar como cozinheira num cargueiro, uma mulher conhece e apaixona-se por outra mulher, Samsa, que lhe chama «Boulder». Quando Samsa consegue um emprego em Reiquiavique e o casal decide mudar-se, Samsa quer ter um filho. Tem quarenta anos e não pode deixar passar a oportunidade. Boulder, menos entusiasmada, não sabe como dizer não e vê-se arrastada para uma jornada difícil.

Enquanto assiste ao modo como a maternidade transforma Samsa numa estranha, Boulder vê-se obrigada a organizar as suas prioridades. Pode o anseio por liberdade superar o desejo por amor?
«Uma autora poderosa e muito original. Adoraria adaptar este livro.» [Pedro Almodóvar]
«Subtil, sombrio e inconvencional. Eva Baltasar transforma a intimidade numa aventura.» [Fernanda Melchor]
«A autora eleva de forma magistral a ideia de uma relação a uma força da natureza.» [Times Literary Supplement]
«Baltasar explora o mundano em busca do essencial e oferece pedaços de intimidade de uma forma que cativa e sacia.» [The New York Times Book Review]
Boulder, de Eva Baltasar (tradução do catalão de Ângelo Ferreira de Sousa), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/boulder/
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Um idiota - significado

 A palavra “idiota” tem uma origem interessante que remonta à Grécia Antiga, onde seu significado era bem diferente do que conhecemos hoje. Vamos explorar a história e a transformação desse termo ao longo dos séculos.

Origem na Grécia Antiga
Na Grécia Antiga, o termo “idiotés” (ἰδιώτης) era usado para descrever um cidadão que se mantinha à parte da vida pública, alguém que não participava dos assuntos políticos ou sociais da cidade. Esse cidadão era visto como alguém que se preocupava apenas com seus próprios interesses privados, não contribuindo para a sociedade. Assim, o termo “idiota” originalmente se referia a uma pessoa comum ou privada, em oposição a alguém que era “público” ou ativo nos negócios públicos.
Em essência, a palavra “idiota” não tinha uma conotação necessariamente negativa. Era simplesmente uma designação para alguém que não desempenhava um papel na administração ou na política, algo que era visto como importante na democracia ateniense. No entanto, o significado começou a mudar porque, na cultura grega, ser um cidadão ativo na vida política era considerado um dever e um sinal de virtude; portanto, “idiotés” começou a adquirir uma conotação de ignorância ou falta de sofisticação no que se referia aos assuntos da cidade.
Evolução na Idade Média
Quando o termo foi adotado pelo latim medieval como “idiota”, ele começou a adquirir um significado mais negativo. No latim, o termo evoluiu para se referir a uma pessoa ignorante, sem conhecimento técnico ou erudito. Durante a Idade Média, o termo era usado para descrever aqueles que não tinham treinamento formal em áreas como teologia, filosofia ou outras ciências que eram então ensinadas nas universidades emergentes da Europa.
Significado Moderno
Na transição para o francês e outras línguas europeias modernas, “idiota” passou a ser usado para designar uma pessoa de pouca inteligência, tola ou desprovida de senso comum. Em português, “idiota” mantém essa conotação negativa, referindo-se a alguém com falta de discernimento ou que comete ações estúpidas.
A Lenda e o Uso Moderno
Apesar de “idiota” ter uma origem neutra na Grécia Antiga, a transformação do seu significado ao longo dos séculos reflete mudanças culturais e sociais. A palavra passou de um termo para descrever alguém afastado da vida pública para um insulto usado para menosprezar a inteligência ou o julgamento de uma pessoa.
Hoje em dia, o uso da palavra “idiota” é comum em muitas línguas e culturas, geralmente como uma forma de insulto leve, embora continue carregando um tom depreciativo.
Essa mudança ilustra como o significado das palavras pode evoluir dramaticamente ao longo do tempo, dependendo do contexto social e histórico em que são usadas. A jornada da palavra “idiota” de uma descrição neutra de um cidadão privado para um insulto sobre a capacidade intelectual é um exemplo claro do poder da linguagem e da cultura na construção do significado.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Zé dos discos recorda Portishead - Dummy 1994, Trip-hop

 Dummy – Um Marco Intemporal na Música Trip-Hop

Lançado em 22 de agosto de 1994, Dummy, o álbum de estreia dos Portishead, é uma obra-prima que transcende géneros e gerações. Com uma fusão inconfundível de trip-hop, jazz noir e influências eletrónicas, o disco estabeleceu a banda britânica como pioneira de um novo som sombrio, melancólico e hipnotizante.
Desde os primeiros acordes de Mysterons, percebe-se que este não é um álbum qualquer. A produção minuciosa de Geoff Barrow, as guitarras de Adrian Utley e, sobretudo, a voz etérea, vulnerável e hipnótica de Beth Gibbons criam uma atmosfera única, repleta de nostalgia e mistério.
Faixas como Sour Times e Glory Box tornaram-se hinos do género, com batidas arrastadas e samples cinematográficos que evocam filmes noir e uma sensação de decadência elegante. Roads, por sua vez, é uma das canções mais emocionantes do álbum, com um crescendo doloroso que toca a alma.
O que torna Dummy tão especial é a sua intemporalidade. Mesmo décadas depois, continua a soar fresco e relevante, influenciando gerações de músicos e sendo redescoberto por novos ouvintes. O seu impacto estende-se para além do trip-hop, deixando marcas na música alternativa, na eletrónica e até no indie contemporâneo.
Mais do que um simples álbum, Dummy é uma experiência sensorial – uma viagem melancólica por ruas chuvosas e memórias desbotadas. É um disco para ouvir no escuro, sentir cada batida e deixar-se levar pelo sussurro sedutor e angustiado de Beth Gibbons.
Se há um álbum que encapsula o espírito do trip-hop na sua forma mais pura e sofisticada, Dummy é esse disco.
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