domingo, 23 de fevereiro de 2025

Quem ama mais quem? in Jornal o Público edição 23-02-25

 

Um ama, o outro nem tanto

Tenho uma teoria sobre o amor. Aplica-se a qualquer casal. Para explicá-lo, é preciso apresentar uma medida, que é a amoria. Uma amoria é a quantidade de energia romântica necessária para levar um beijinho na bochecha. É como se fosse uma caloria erótica. Para dar — e não apenas levar — um beijinho na bochecha já são necessárias cinco amorias. Uma amoria é pelo beijinho em si, as outras quatro são pelo apetecimento de plantar um beijo na bochecha do companheiro.

Cada casal dispõe de 50 mil amorias, que é o suficiente para viverem felizes para o resto da vida, caso sejam prudentes e equitativos, e não esbanjem as amorias todas nos primeiros tempos e nas primeiras rodadas.

Deveriam ficar 25 mil amorias para cada um. Mas é aqui que começam os problemas. É que, na febre e na novidade de amar, há sempre um parceiro com excesso de zelo que açambarca um excesso de amorias.

Num extremo — e conheço um caso que é mesmo assim — um deles fica com 50 mil amorias e o outro fica com zero. O marido, por exemplo, morre de amores pela mulher, mas a mulher não pode com ele.

O marido até não se importa, desde que a mulher não o deixe, mas a mulher sofre muito, porque ninguém compreende que ela trate tão mal uma pessoa que gosta tanto dela.

É um extremo, mas o desnível está quase sempre presente: assim como há sempre uma pessoa mais gorda em qualquer casal, há sempre um membro do casal que gosta mais do outro do que o outro dele.

Para mais, o que é rico em amorias persegue o pobre, porque, gostando muito mais dele, tira muito mais partido da companhia dele.

Já o pobre, que só tem as amorias suficientes para aturar o rico, foge sempre que pode, porque não aguenta o convívio de natureza amorosa e voluntária.

A cada casal compete gerir este desequilíbrio na distribuição do amor.

O rico, apesar de não ser correspondido, é mais feliz, porque tem um propósito na vida: ir atrás de quem ama.

Mas o pobre também se safa, fazendo a vida negra a quem o persegue.

Sem comentários:

Enviar um comentário