John Legend - All of you
》história de alma gêmea《
》história de alma gêmea《
Deixe-os/as ir.
Penso nas pessoas bondosas que conheci, para ver se consigo chegar a uma definição de bondade que não sirva para envergonhar aqueles que não tiveram a sorte (ou o azar) de nascer bons. Ocorre-me que todas elas estavam constantemente a fazer uma coisa que irritava os outros: arranjar desculpas para quem era atacado por isto ou por aquilo. Arranjar desculpas não é desculpar, mas também não é compreender ou justificar — embora faça parcialmente esses três trabalhinhos.
Arranjar desculpas é um exercício de altruísmo — e logo de bondade. É o procurar razões e atenuantes que é bondoso. É o querer encontrar essas coisas, mesmo quando não se consegue.
Desculpar quem não conhecemos, quem não nos pode nem prejudicar, nem beneficiar começa por ser uma oferta de tempo e de actividade cerebral.
Toda a minha vida odiei quem me tentava calar quando queria defender alguém, dizendo “Ele não precisa que tu o defendas. Ele defende-se sozinho!”. Acho que essa é a voz da maldade. Tenho pena que me tenha levado tanto tempo a perceber isso, mas, sobretudo, tenho pena das vezes todas em que me calei quando me disseram isso.
A bondade não é só desinteressada — também é independente da realidade, daquilo que poderá constituir a verdade ou os factos sobre uma pessoa que não se conhece.
Arranjar desculpas é, acima de tudo, humanizar. É o resultado de pensar “se eu tivesse feito essa coisa repreensível, o que é que me poderia ter levado a fazer uma coisa dessas?” Esta é, por sinal, a grande força dos livros de Maigret: os assassinos são pessoas exactamente como as pessoas que não assassinam ninguém. Simenon era um grande desculpador: se calhar, porque o comportamento dele também tinha muito para desculpar.
Arranjar desculpas não é desculpar: é conversar. Conversar é desequilibrar, ouvir, fazer faísca, acompanhar um pensamento. Na volta, as desculpas irritam mais precisamente por serem bondosas, quando a graça das bisbilhotices é a maldade.
"E assim segue a vida…