sexta-feira, 17 de junho de 2022

 

As Encantadoras – (Wonders)

Elena Medel

Traduzido do Espanhol por Lizzie Davis e Thomas Bunstead

A Maria tem sono pesado. Quando se reformou, colocou o despertador num saco plástico e deixou-o na associação na prateleira dos artigos de segunda mão, caso alguém necessitasse de um. Durante anos não o usou, em vez disso, como toda a gente, substituiu-o pelo alarme do seu telemóvel – mas o gesto pareceu simbólico, como se fosse a história de outra pessoa, pensou, porque é que não seria útil a alguém que precisasse, um objeto noutra história cuja protagonista saísse de casa de madrugada?

De qualquer modo, ela quase sempre acorda sem ajuda, agitada quando os raios de sol se infiltram nos estores, ou quando alguém do apartamento ao lado começa no o seu duche matinal. Todos estes acontecimentos prepararam-na para este dia. A noite passada ao terminar a sessão no WhatsApp, a Laura escreveu o seguinte, “não acredito que está realmente a acontecer. Nas assembleias, nos encontros concelhios, a Maria está sempre a tentar evitar que as raparigas mais novas fiquem demasiado animadas, mas agora é ela que está animada, também”.

A minha vida inteira, os quase setenta anos que já vivi, conduziram-me, ao acordar esta manhã, a estar aqui na vossa reunião, a caminhar ao vosso lado. Elas foram instruídas na associação a dizer “faz o que quiseres, uma greve ao trabalho pago, uma greve como consumidora, uma greve aos cuidados médicos. Escolhe o que for melhor para ti, porque para nós está tudo bem, não estamos aqui para distribuir crachás à melhor feminista”.

O meu marido vai notar se eu não tiver a comida pronta para ele. Por isso, Amália, põe a sopa num Tupperware e diz-lhe que ele mesmo a pode aquecer. Será que ele consegue fazer isso? Dá-lhe uma aula para principiantes de como usar o micro-ondas, na próxima semana. Eu tenho de trabalhar, não me posso dar ao luxo de não ser remunerada, mas não se preocupem, encontro-me convosco mais tarde na Atocha. Será que cuidar de ti própria conta? Estou a pensar tomar um banho de imersão antes de sair de casa pela manhã, até ficar com a minha pele enrugada como se fosse uma ameixa seca.

Com certeza, porque não? Hoje trata-se de cuidar de nós próprias e das nossas irmãs. Na véspera, à tarde, várias delas tinham-se encontrado na associação: algumas, atarefadas, faziam sandes para aquelas que fossem para as ruas espalhar a mensagem, às mulheres que saiam das mercearias, e às que tinham ido para o trabalho; outras optaram por não fazer greve, mas apareceram bem cedo na sede para discutirem os acontecimentos nas diferentes cidades e aqui na sua cidade.

Será que ouvir rádio conta como fazer greve? Ver online o que está a acontecer? Elas destaparam uma bandeja embrulhada em papel de alumínio e passaram às outras fatias de pão-de-ló. Tinham frito empanadas, e as raparigas prepararam húmus e guacamole, uma das mais velhas mergulhou uma colher na panela de barro como se fosse sopa ou leite creme para deleite das raparigas. Não é assim que se come húmus. Parecia demasiado moderno para ela, e lembrou-se da sua mãe que tinha vivido durante a guerra, e nunca iria desperdiçar ingredientes naquele líquido; de onde é que pensa que és, do Nilo ou do Carabanchel, porque aqui no Carabanchel nós colocamos grão-de-bico no guisado.

Enquanto elas faziam as sandes de chouriço e salame, cortando-as em triângulos, embrulhando-as em plástico e empilhando-as no frigorifico, para serem distribuídas no dia seguinte, a Maria fazia uma lista de todos as marchas de protesto e greves em que não tinha participado: aquelas contra o Suárez, nos anos setenta, antes e depois; aquela contra a Nato; aquela a favor das pensões em 1985, a greve de 88 e as duas nos anos noventa, aquelas pelo Iraque e pelo Não à Guerra; aquela em 2010, as duas em 2012 – a marcha de protesto aqui contra o Rajoy, e aquela sobre a Europa – o comboio da liberdade, e aquela a favor da escolha. As manifestações, recorda uma das raparigas, já em idade universitária, “você esteve lá na manifestação Verde - a favor do Aborto”, afirma, e a Maria torna a contar como numa das manifestações, um repórter perguntou-lhe se ela estava a protestar em nome da sua neta, e ela, sem saber o que responder, disse que sim, que estava, em nome da sua neta e das netas das suas amigas, e as raparigas no grupo das mais novas na associação, acenavam para a camera sem lhe dizer (era segredo) que não eram relacionadas com ela.

A Maria, de forma convincente, menciona o primeiro e último nome dos homens que constituíram a sua biografia: Felipe, Boyer, Aznar – que nunca iriam conhecer algo sobre a mulher de setenta anos que tinha trocado um bairro semiconstruído numa cidade do sul de Espanha por um bairro social em Carabanchel, Madrid. Um dos ministros de Zapatero concedeu um prémio à associação, mas a Maria nunca o foi receber. Entregaram-no durante a manhã, mas como ela estava a trabalhar não pode ir.

“Então, Maria, já tinha visto muitas mulheres anteriormente nas reuniões?” Uma das raparigas, praticamente uma adolescente, colocou a questão de uma forma inocente, um fio de gordura de chouriço escorria pelo seu pulso abaixo até à ponta dos dedos; as suas mãos, calejadas, resultado do trabalho doméstico desde a infância, sempre sobressaíram aos olhos da Maria, que as via como um sinal de que iria acabar por usá-las mais do que a cabeça. Apesar da sua juventude, as coisas que a rapariga dizia espantava a Maria – a filha da filha de uma amiga, dizia para si mesma com uma sensação estranha de orgulho – ela exprimia as suas opiniões categoricamente, conseguia criar empatia com pontos de vista de outras pessoas, e, ao mesmo tempo, havia algo de reconfortante, para a Maria na afirmação, que confirmava o facto da rapariga ser inexperiente.

Não acredito que os homens não te deixassem falar. Costumava ir com os tipos da associação do bairro, a Maria explicou. Comecei a namorar com um deles cinco ou seis anos após me ter mudado para Madrid. Eu ia a essas reuniões para fazer do bairro um sítio melhor para se viver. Era uma zona perigosa, nessa altura, mais do que é hoje, toxicodependentes aos tiros em plena luz do dia, mesmo à entrada do meu prédio, e eles não se ficavam apenas pelos roubos por esticão, e, na altura, ainda havia zonas completamente degradadas, e mais distantes, as prisões. Todos tínhamos a sensação de que na margem sul do rio havia terrenos baldios cheios de nada e de ninguém. Claro que, nada e ninguém se referiam a nós.

Comecei a refletir sobre o que diziam nas reuniões, e comecei a tirar notas sobre alguns dos nomes dos escritores de quem eles falavam, eles e outros homens que eu não conhecia bem, nas reuniões e nos bares onde nos reuníamos a seguir. Costumava saltar de um escritor para outro e depois partilhava quaisquer que fossem as conclusões a que chegava com o mesmo homem de sempre, o meu companheiro – Pedro, era esse o seu nome – e costumávamos discuti-las. Ele costumava lançá-las à discussão na reunião seguinte, e todos eles ficavam extasiados com a sua pretensa inteligência, como se fosse um professor universitário. Mantinha-me em silêncio, porque ele fazia crer que as suas ideias eram melhores que as minhas.

Comecei a me reunir com algumas mulheres, a tua avó, algumas outras amigas, nas suas casas, e em minha casa também, e era aí que nós costumávamos falar de temas que nos diziam mais respeito, coisas que os homens não tinham interesse: o divórcio, o aborto, a violência, não apenas a física, mas a psicológica também. A tua mãe começou a me sugerir livros que estudou durante a licenciatura, e eu continuei lendo e aprendendo, e comecei a me aperceber que quanto mais pensava por mim, mais o Pedro se sentia desconfortável. Por isso, nós, eu e a tua mãe, conversámos; conversávamos muito como sempre o fizemos, e, então, decidimos pedir à associação se podíamos criar um grupo de mulheres. Nas suas mentes seria apenas para trocarmos ideias sobre roupas e receitas. Bem, a tua mãe e algumas das suas amigas universitárias mudaram-se para cá e começámos a causar embaraços. A Câmara Municipal arranjou um sítio para nos reunirmos, mas depois voltou atrás quando nos queixámos da falta de luz no parque. Com algum dinheiro amealhado por todas nós, alugámos o nosso próprio espaço. Nessa altura, eu trabalhava o máximo de horas possível, limpando escritórios nos Nuevos Ministérios; quando acabava, comia qualquer coisa, uma sandes no metro, ou qualquer coisa que fosse rápida de fazerem casa, e nem tinha tempo de me sentar um pouco, e em algumas noites eu saía para me encontrar com o Pedro apenas por uns instantes, não acho que tenha sido tão feliz como nessa altura. Nem mesmo agora que vou descansar, quando passo o dia todo na associação e vos vejo a todas a se ajudarem mutuamente. Foi a primeira vez na vida que senti que as pessoas me ouviam quando falava, que respeitavam o que eu dizia, e não porque me queriam levar para a cama, ou porque deixavam de prestar atenção a algo que eu abordava e que não lhes dizia nada, mas sim porque me compreendiam, que concordavam comigo, e pensavam que o que eu dizia era algo que valia a pena ouvirem. Houve um momento, quando tudo isso, ao pensar em algo e ao verbaliza-lo, ao fazer as coisas que eu dizia que faria, a associação parecia-me muito mais importante do que qualquer outra coisa que o Pedro pudesse alguma vez me oferecer. Ele queria que fossemos viver juntos, mas apercebi-me que nada disso tinha a ver com amor. Eu não era uma pessoa – Maria – mas algo – algo que ele sentia que lhe pertencia – o seu apartamento, o seu carro, a sua mulher.

Esta cicatriz - e ela aponta para o seu queixo, um arranhão que sobressai da sua pele branca – fiz isto quando, uma vez, saía do autocarro à pressa, tropecei e caí e ele não fez absolutamente nada, não se preocupou minimamente comigo. Estivemos juntos um ano, depois disso.

Por essa razão, não: quero dizer, nunca houve mulheres como nós. O que é que quer dizer com isso, Maria? Mulheres pobres. Até para protestarmos, precisamos de dinheiro.

 

Traduzido por Ivo Eduardo Correia de Granta Magazine 

Este é um projeto de tempos livres. Sou um leigo nas lides da tradução, não tenho experiência nem Licenciatura nesta área. Gosto de desafios e de melhorar os meus conhecimentos linguísticos e literários. Sejam compreensivos!

quinta-feira, 16 de junho de 2022

 

Memórias de uma ilha

Tove Jansson & Tuulikki Pieitilä

 

Brunström falava às vezes do grande degelo. Ele costumava dizer “se não viste isso, então não viste nada”, e não estou a falar, neste momento, do gelo quando se quebra numa daquelas pequenas baías no interior do arquipélago.

O Tooti e eu decidimos que tínhamos de assistir a um desses momentos quando o gelo começa a quebrar, no entanto, levou alguns anos até que tivéssemos a oportunidade de lá irmos. Estávamos em março – um inverno tardio e uma primavera precoce.

Alugámos um hidrocóptero construído por Valter Liljeberg em Pellinge, feito de placa fina de madeira e reforçado com fibra de vidro. O motor era Chrysler. Na popa o hidrocóptero tinha um propulsor, separado da cabine dos passageiros pelas suspensões horizontais duma cama de metal rebatível – da marca Heteka.



Deixaram-nos levar apenas uma mochila, sentámo-nos com os joelhos encolhidos até ao peito. O motor pegou com um rugido, e o aparelho moveu-se ao longo do gelo a grande velocidade até que abrandou, afundando-se até à balaustrada e começou a chiar. Depois, deslizou para a frente muito devagar, engatinhou de volta ao gelo e avançou de novo. E continuámos nisto, aos repelões, durante todo o percurso até ao canal dos barcos, que estava cheio de blocos de gelo. O comandante saiu e deu um pontapé no bloco de gelo mais próximo, depois saltou de novo para dentro do aparelho, e o hidrocóptero virou o nariz do para um rumo diferente, fez um desvio e aí tudo correu bem. Voámos como o vento o último quilometro ao longo do gelo vítreo, escuro e transparente, deslizando sobre os baixios onde a floresta de algas castanhas ondulavam por baixo de nós.

Chegámos à ilha e o hidrocóptero regressou à base.

Quando entrámos na cabana sentimos logo aquele frio arrepiante que Brunström costumava designar por “a toca do lobo”, alguém tinha usado toda a lenha. Encontrámos algumas paletes de madeira na cave e usámos para nos aquecermos, e também aparas de madeira e descongelámos alguns toros que estavam cobertos de gelo.

Vibrámos de emoção pela mudança e pelas expectativas e corremos precipitadamente na neve aqui e ali e atirámos bolas de neve ao marco geodésico. Tooti construiu um trenó com finas tiras de madeira, e conduzimo-lo repetidamente ao longo do gelo desde o topo da ilha até ao extremo mais longínquo.

Quando nos cansámos desse jogo, sentámo-nos e fizemos o ponto da situação. O mar refletia a luz solar para onde quer que olhássemos. Foi aí que nos apercebemos do silêncio absoluto.

E que estávamos a sussurrar.  



E a longa espera chegou. Apoderou-se de mim um sentimento de desapego totalmente novo, ao contrário do isolamento, era apenas a sensação de ser um forasteiro, sem preocupação ou culpa sobre o que quer que fosse. Não sei como é que aconteceu, mas a vida tornou-se simples e fiz de tudo por ser feliz.

O Tooti fez um buraco no gelo para deixar o nosso lixo.

Tornámo-nos cada vez menos stressados, cada vez mais calmos e cumprimos as nossas tarefas diárias como se estivéssemos lá sozinhos. Era muito relaxante.

E uma noite aconteceu, mas muito longe da costa, provavelmente ninguém assistiu. Parecia um trovão distante ou um tiro de canhão. Corremos para o topo da ilha, mas o gelo no mar parecia igual em todas as direções. Estivemos à espera imenso tempo, ao frio glaciar, mas nada se passou, por isso, acendemos o lume na lareira, e fomos dormir.

Incapaz de esperar, quando o nosso próprio objetivo grandioso era esperar, é imperdoável.

O que é que eu estava a pensar quando estava no cimo do Vesúvio? Gostaria mesmo de saber. Quero dizer, lé estava ele a se comportar mal, e eu estava lá! Tinha 19 anos e tinha esperado toda a minha vida para assistir a uma montanha a cuspir fogo. A lua já estava no céu, os pirilampos também; a Terra estava incandescente – e o que foi que eu fiz? Obedientemente, regressei ao hotel no autocarro de turismo afim de tomar o meu chá e ir para a cama! Quem é que ocupa o seu tempo a dormir, quando algo está a acontecer finalmente. Poderia ter ficado a noite inteira e ter tido o Vesúvio só para mim.

Seja como for, dormimos de mais. Quando acordámos todo o oceano estava cheio de pedaços de gelo. Pedaços de gelo impressionantes flutuavam à deriva, levados pela suave brisa de sudoeste, esculturais, cintilantes, tão enormes como carros, catedrais, cavernas primitivas, tudo o que se possa imaginar. E eles mudavam de cor sempre que lhes apetecia – azul, verde e à noitinha, laranja. E de manhã cedo, cor-de-rosa.

O vento começou a soprar e os blocos de gelo começaram a chocar uns contra os outros, erguendo-se, baixando-se (como se estivessem numa orgia, de acordo com o Brunström).

Eles mudavam de aspeto continuamente e de uma forma fantástica em direção à derradeira transformação em água.

A água da lagoa permanecia parada, congelada até ao fundo, a sua enseada cheia de neve pura e intacta entre as rochas basálticas.

O Tooti dizia algo como “tudo fica muito bem quando é a cores” muitas vezes ao dia, mas para mim as cores mais puras e dignas continuam a ser o preto e o branco.


Traduzido por Ivo Eduardo Correia de Granta Magazine 

Este é um projeto de tempos livres. Sou um leigo nas lides da tradução, não tenho experiência nem Licenciatura nesta área. Gosto de desafios e de melhorar os meus conhecimentos linguísticos e literários. Sejam compreensivos!

16-05-2022

 

 

Proposta de amizade (Overture)   

Janice Galloway

 

Para apanhar um polvo é necessário permanecer imóvel. E um par de olhos apurados.

Nem mais, nem menos.

Agosto e setembro são os melhores meses, porque nessa altura as crias do polvo estão sozinhas, as fêmeas regressaram às profundidades e abandonaram-nas completamente nas águas pouco profundas. Escolha uma poça marinha cujas águas sejam algo turvas entre declives planos cheios de pequenas cavidades de ambos os lados e que, depois, seja fácil de subir à superfície. Se a pequena poça natural tiver a profundidade certa e não for mais larga do que um poço, melhor. O sítio ideal - se à volta as águas estiverem agitadas. Tenha em conta a rapidez com que a maré sobe, observe se a água está a subir ou a vazar. Não pretende se afogar, pois não? Verifique os buracos na rocha, os seus padrões e os sítios onde estão, para quando descer tenha onde apoiar as mãos e os pés em segurança. Quantos mais buracos melhor: debaixo de água são sítios propícios para peixes, moluscos e pequenos invertebrados se esconderem. Quando tiver a certeza do caminho a seguir, comece. Conserve a sua cara virada para a rocha, os dedos esticados, e deslize pela beira. Enfie os dedos dos pés em cada um dos apoios à procura de lodo ou de ocupantes instalados antes de confiar no seu peso: Experimente à mesma os apoios para as mãos. Algo com pinças pode ripostar. A seguir, desça até os seus calcanhares entrarem na água e a luz acima se tornar menos brilhante. Preste atenção à corrente. Aja como um gato, com muito cuidado. Coloque o seu queixo firme contra a rocha e olhe para o fundo. Verifique até onde consegue ter visibilidade. Faça figas para que haja areia em baixo, que não haja cacos ou crustáceos. E quando estiver pronto, inspire fundo, e desça.

Desça. O choque é momentâneo.

Abra os olhos.

Observe as formas desenhadas pela luz aquando da ondulação, tudo aquilo é movimento. Eles sabem que está lá. Ignore as estrelas do mar. Ignore os caranguejos. Não se preocupe com o que não for voluptuoso. Deixe os seus braços leves, os seus ombros descaírem, e aguarde. Aguarde. E elas virão. Como fantasmas que surgem de sítios secretos, por sua própria iniciativa, elas virão, apesar de tudo, porque são curiosas incapazes de resistir. Primeiro, uma, pequena como um punho, os seus pequenos tentáculos desenrolando-se a fim de encontrar o seu pulso, envolve-lo com pele macia. Ela pode detetar a palma da sua mão. Está na sua natureza explorar o meio à volta. Agora ela está seduzida pela curiosidade. Tente não fazer nada, mantenha-se imóvel. Deixe que ela apresente o seu abraço e enrole os seus tentáculos. Lentamente, toque nela. E ela enrolar-se-á com prazer, pressione-a contra a sua mão como se fosse uma gatinha, e queira mais. Quando ela se tornar adulta o seu bico vai morder até ao osso pois ela tem consciência de que você é traiçoeiro, mas, neste momento, ela é apenas uma cria. Ela não tem malicia. Deixe que São Francisco seja o seu guia. Um animal selvagem encontrou-o. Você foi abençoado por isso. Deixe ela ficar até que os seus pulmões já não consigam mais e precise de voltar à superfície, o seu ambiente natural. Um dia ela vai povoar os mares de todos os continentes. Veja como ela se desloca. Vire a sua cara para a luz à medida que ela se vai embora

vai embora

vai embora

 

Traduzido por Ivo Eduardo Correia de Granta Magazine 

Este é um projeto de tempos livres. Sou um leigo nas lides da tradução, não tenho experiência nem Licenciatura nesta área. Gosto de desafios e de melhorar os meus conhecimentos linguísticos e literários. Sejam compreensivos!