sábado, 2 de maio de 2020

As Máscaras estão de volta!

 Uma máscara é um acessório utilizado para cobrir o rosto. É utilizada para diversos propósitos: lúdicos (bailes de máscaras, Carnaval), religiosos, artisticos ou de natureza prática - máscara de proteção. 
Por outro lado, o véu é um tecido ou peça de vestuário, utilizado quase exclusivamente por mulheres de diferentes culturas. Serve para cobrir totalmente ou em parte a cabeça e a face. Uma variedade de peças de vestuário para a cabeça são usadas por mulheres e meninas muçulmanas de acordo com o hijab (o princípio da modéstia no vestuário), normalmente sendo referidos no ocidente como véus. O principal objetivo do véu muçulmano é ocultar aquilo que poderia ser considerado sexualmente atraente para os homens. Muitas dessas peças de vestuário cobrem os cabelos, orelhas e garganta, mas não a face.
O uso de véus e coberturas para a face de mulheres muçulmanas levantou questões políticas em diversos países devido ao terrorismo.
Ironicamente, a partir de uma situação de pandemia que implica risco elevado de contágio por vírus, o uso obrigatório da máscara é um facto. E como a necessidade aguça o engenho, já há, neste momento, uma indústria florescente de elaboração de máscaras, umas mais artisticas, outras mais comedidas e simples.
A máscara cobre o rosto, logo este acaba por perder a importância num primeiro contato visual, quer seja atraente ou não. Os olhos, por sua vez, ganham um interesse acrescido. "Os olhos são o espelho da alma" e como Louise Madeira afirmou "Em tempo de máscaras faz diferença saber sorrir com os olhos".  
Lembro-me de um cruzeiro  pelo Rio Tamisa, numa das viagem que fiz com os meus filhos a Londres. Conversávamos e ,de repente, visualizo um casal árabe, a senhora com a face coberta por um véu, apenas deixando entrever os seus olhos verdes. O fascínio daqueles belíssimos olhos relegaram para segundo plano qualquer outro juízo que, porventura, fizesse.  

segunda-feira, 27 de abril de 2020

A Paixão segundo Jeanette Winterson



                          
A Paixão
Jeanette Winterson
Elsinore, 2020, trad. de Paulo Osório de Castro,
206 páginas, € 16,59
Romance

A "Paixão", foi publicado originalmente em 1988 e inédito em Portugal.
Cozinheiro dedicado de Napoleão em 1805, Henri é um soldado inocente e ingénuo que está encarregue de que nunca falte frango na mesa de Napoleão, e cuja devoção pelo imperador se transforma em ódio com o violento desenrolar da campanha russa. Entra ao seu serviço em França e segue-o até à Russia. Desesperado por escapar às agruras da frente russa, Henri acaba por conhecer Villanelle, uma jovem veneziana de cabelos vermelhos, herdeira de uma família de barqueiros em fuga da sua própria sombra, e cujo coração foi perdido e apostado no jogo. Juntos fogem de uma Moscovo sitiada em direção à decadência de Veneza, cidade das máscaras, do carnaval, da sorte e do azar, onde, «entre o medo e o sexo», poderão, finalmente, encontrar o seu destino.
A inocência e a ingenuidade de um homem, Henri, que acredita em valores superiores como a fé e a confiança total em Napoleão, qual Sancho Pança, e, mais tarde, no amor incondicional por Villanelle uma mulher misteriosa e singular, faz desta personagem um ser humano singular. Henri ama e sofre, e desilude-se com ambos, porque nenhum corresponde ao que ele anseia. A tragédia tem lugar, e a reclusão revela-se, pois, o único espaço onde ele se sente verdadeiramente bem. 
"Não faz sentido amar alguém ao lado de quem nunca poderemos acordar, a não ser por acaso".
Villanelle, crescida na cidade das máscaras, às vezes ela, às vezes ele, chega a confessar: " A paixão é menos uma emoção do que um destino".
A Paixão divide-se em quatro capítulos: O Imperador; A Rainha de Espadas; o Inverno Zero; e o Rochedo. Numa linguagem simples e descritiva, Winterson leva-nos até a época das invasões napoleónicas para leste até à Russia dos Czares, e à Veneza mágica da nossa imaginação. Os nossos sentidos aguçam-se a cada momento. Do riso, ao espanto e à lágrima ao canto do olho, de tudo um pouco experienciamos. Uma fantástica viagem no tempo. "A Paixão" é um livro curto, rigoroso nos detalhes históricos, e de quando em vez, lembra os contos das "Mil e Uma Noites": "Conta-se a história duma princesa exilada, cujas lágrimas se transformavam em jóias à medida que caminhava."
Uma leitura a ter em conta, em tempo de quarentena! Jeanette Winterson tem disponível na Elsinore o seu romance que foi candidato ao Man Booker Prize, 2019 - Frankissstein

domingo, 26 de abril de 2020

A minha avó Gabriela

  Das casas de São João e dos Louros guardo poucos recordações. Lembro-me sim, da Rua das Rosas, local dos nossos almoços dominicais e de aventuras excitantes. O meu pai deixava-nos pela manhã e ficávamos até ao final da tarde. A sua casa não era muito convencional. Lá, viviam para além da minha avó materna, Gabriela: a tia Rita; a tia Filó,a irmã da minha avó, uma mulher "sinistra", mas extremamente carente de afeto e atenção, que nos interpelava à chegada e à saída; No andar inferior, vivia uma senhora, que aparentava a idade da minha avó, professora primária, creio.
  O meu avô, infelizmente, não tive o prazer de conhecê-lo, pois já tinha falecido quando nasci. 
A minha avó Gabriela, na altura, nos seus sessenta anos, era uma mulher sofrida, porém estóica, resiliente e muito afável no trato. Educou as suas duas filhas com rigor e esmero, apesar de não ter tido uma educação superior. Ensinou-me muitas coisas, à sua maneira, com ela aprendi as horas com apenas cinco anos. Foi um orgulho, quando recebi o meu primeiro relógio.
Quando nos visitava, geralmente aos sábados à tarde, trazia-me umas flores laranjas, como as que estão na imagem, gaitinhas. Com elas ensinou-me a soprar e a criar sons que eu adorava. Aquela mulher transpirava Amor por todos os seus poros. Era uma mulher muito ótimista, que amava as filhas e os netos acima de tudo, não obstante as agruras da vida. Vinha de uma família muito numerosa como era apanágio na segunda metade do século XX. Nada faltou às filhas. 
Após todos estes anos, ao me recordar da sua pessoa, apercebo-me que a minha mãe era uma cópia fiel de sua mãe. Felizmente, a minha mãe herdou as melhores qualidades da minha avó. 
Até um dia, querida avó Gabriela!





Poem of the Day


Bernard O’Donoghue’s most recent collection is The Seasons of Cullen ChurchLives of Houses, the anthology from which this poem is taken. We live peril times!







Safe Houses

I find that I have started recently
to keep spare keys to the front door                             
in several pockets, such is my fear
of being locked out. Caught by the wind
the door could shut quietly behind you,
leaving you to face the outer world alone.
Once safe inside I don’t put on the chain.     
In guerrilla conflicts, the combatants
change their safe house at intervals
to give their hosts a rest from listening
for the thump on the door in the early hours,
as at the end of winter you escape
from cold and dark by making for
the sunnier climates to the south.
But where do we retreat to in the end
when the call to open up will not subside?
Kate in her nineties was no longer fit
to mind herself, so they took her in
to the Lee Road. When I called to see her
the nurse unlocked the door to the main room
and turned the key again behind me.                          
She was there with twenty other women,                             
all chattering and laughing like the magpies                          
in Purgatorio, not to each other
but to the unhearing outside world.
I thought of Masaccio’s grieving couple,
not grasping what they’ve been exiled from,

some corner where the serpent cannot reach.

Bernard O’Donoghue