domingo, 25 de maio de 2025

Florifugia monticola — A flor que caminha nas montanhas

 Florifugia monticola — A flor que caminha nas montanhas.

Entre os picos solitários dos Andes, onde o vento sussurra segredos às rochas e o céu parece mais perto do coração, fala-se de uma criatura que quase ninguém viu — mas que alguns jamais esqueceram.
O seu nome, sussurrado por pastores e antigos andarilhos, é Florifugia monticola.
Dizem que não é planta, nem bicho. É ambos. É um inseto com alma de flor. Um ser que brota do silêncio, floresce no entardecer, e desaparece antes que alguém possa duvidar.
Foi avistado por um viajante, num refúgio remoto de madeira, perdido nas nuvens. Ele conta que o ser surgiu de repente, caminhando pela borda da janela como se tivesse urgência. Parou. E então começou a florir.
Primeiro, abriram-se pétalas dorsais. Finas, translúcidas, como se feitas de luz e vento. Depois, surgiram filamentos que se espalhavam como cabelos de uma estrela caída. Quando tudo pareceu ter terminado, a criatura recolheu as suas pétalas. Mas o espetáculo não havia acabado.
De dentro, como um milagre em câmera lenta, surgiram frondes douradas — pequenas e delicadas, que se reorganizavam sozinhas, até formarem uma coroa viva. Era como se a própria montanha respirasse através daquele ser.
Dizem que ele só floresce quando o clima muda. Que seu desabrochar avisa os pastores: vem chuva, vem névoa, vem algo. E que ver o Florifugia é um presente — ou um presságio.
Mas nem todos acreditam.
Os cientistas dizem que ninguém jamais colheu um espécime. Que não há provas. Que talvez seja só um sonho dos que vivem perto das nuvens.
Mas nas aldeias altas, onde se contam histórias junto ao fogo, o Florifugia monticola vive. Vive nos olhos dos que esperam. Vive nos gestos dos que escutam.
E se algum dia, num fim de tarde, o vento mudar de repente e você ouvir algo rastejando com perfume de eucalipto e resina… pare. Silencie. Talvez seja ele.
A flor que caminha. O inseto que sonha.
O presságio dourado das montanhas.










Sem comentários:

Enviar um comentário