domingo, 2 de fevereiro de 2025

Fevereiro o mês do Amor / Coração! Público 2, edição deste domingo.

 

Neste mês do amor, cinco formas de amar melhor

Esquecemo-nos que os amores não se encontram — eles constroem-se. Relações felizes e satisfatórias envolvem trabalho, empenho, para os quais nem sempre estamos disponíveis

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Fevereiro é popularmente conhecido como “o mês do amor”. Para muitas e muitos, apenas uma comemoração capitalista sem sentido. Para mim, mais uma boa oportunidade de celebrar o amor e, acima de tudo, ref etir sobre ele.

Atrevo-me a afirmar que, todas e todos queremos, em algum momento, encontrar o amor. Porém, geralmente, esquecemo-nos que os amores não se encontram — eles constroem- se. Relações felizes e satisfatórias envolvem trabalho, empenho, para os quais nem sempre estamos disponíveis. Ou, por vezes, até estamos, porém, não sabemos bem como fazê-lo. Assim sendo, vamos a cinco coisas que a ciência já mostrou contribuírem para a saúde e felicidade das nossas relações.

Evitar generalizações

A forma como comunicamos é decisiva. Afinal de contas, a comunicação é a ponte entre nós e o outro. É importante criar pontes sólidas, seguras e que nos permitam fazer chegar a mensagem ao outro lado.

Um dos erros que, frequentemente, prejudicam esta travessia, é o uso de palavras como “nunca” ou “sempre”. Ninguém é ou faz “sempre” ou “nunca” alguma coisa. E dizê-lo deste modo perturba a compreensão da mensagem pelo outro, ativa o modo defensivo e descentra a atenção do conteúdo para a forma.

Substituir, por exemplo, um “nunca fazes o que peço!” por um “estoume a sentir sobrecarregada”; ou um “para ti faço sempre tudo mal!” por um “estou a tentar, mas sinto-me muito criticado” pode fazer toda a diferença!

2. Encher a conta bancária emocional

As críticas e desentendimentos vão acontecer e são, na verdade, muitas vezes necessários. Porém, segundo os estudos de Gottman, de forma a mantermos a saúde da nossa relação, são necessárias cinco interações positivas para compensar cada interação negativa. Embora isto não funcione, obviamente, como uma ciência exacta, estes números dão-nos uma noção de como uma crítica mais dura ou um momento pouco empático precisarão de uma conta bancária emocional recheada para amortecer o impacto. E como recheá-la? Elogiando de forma sentida e descritiva, facilitando o dia do outro resolvendo-lhe um problema, mostrando interesse e preocupação, planeando um date, entre muitos outros!

3. Falar sobre sexo

Com o tempo, as obrigações familiares e laborais, eventualmente os filhos, com o cansaço e a falta da comunicação… a monotonia e o tédio sexual podem instalar-se.

Também nesta área, a comunicação aberta e honesta é essencial. Sobre preferências, fantasias, desejos ou até mesmo para pedir apoio e compreensão em períodos em que tudo isto está mais adormecido. Porém, é essencial criar um espaço seguro e sem julgamento para que estas partilhas possam acontecer.

Certo é que casais que comunicam abertamente sobre estes temas relatam níveis mais elevados de satisfação sexual e no relacionamento.

4. Agendar tempo de qualidade (inclusive para o sexo)

Não se constroem relações de qualidade sem tempo de qualidade. Sem conversas boas, atividades interessantes, inteiramente focados um no outro. E bem sei que na correria dos dias parece impossível parar para fazê-lo. E por isso é que este tempo deve ser agendado e ritualizado com o mesmo empenho e compromisso que colocamos em tantas outras tarefas. Uma sugestão: a cada duas semanas, um encontro a sós; a cada dois meses, uma viagem de fim-desemana só os dois; a cada dois anos, uma semana de férias sozinhos.

Igualmente, a nossa vida sexual também ganhará bastante em ser planeada. Porque, com tantas obrigações diárias e com a transformação que o desejo vai sofrendo ao longo da relação, se vamos esperar pelo dia em que os astros se alinham e há tempo, vontade e todas as condições reunidas talvez seja melhor esperarmos sentadas/os.

Com o passar dos anos, o desejo que no início da relação era espontâneo — isto é, acontecia “naturalmente”, sem grande investimento — tende a tornar-se responsivo, especialmente nas mulheres. Ou seja, surge em resposta a estímulos a que intencionalmente nos expomos. E atenção: não é forçar-nos nem fazer fretes pelo outro — é predispormonos a iniciar uma experiência que sabemos que, no final das contas, nos fará sentir bem.

“Já percebi, Tânia… Mas, agendar o sexo parece tão forçado…”

Sempre que trago esta sugestão, surge alguma resistência. Romantizamos a espontaneidade no amor e no sexo a um nível em que tudo aquilo que seja previamente combinado parece perder a magia. Mas, na adolescência, o sexo não era marcado também para aquelas poucas horas em que não estava ninguém em casa? E as férias que marcamos e passamos meses a antecipar entusiasticamente? Porque é que não podemos fazer o mesmo com o sexo? Antecipando, fantasiando, trocando mensagens sugestivas quando o dia está a chegar!

5. Novidade

A novidade é essencial para a contínua construção da intimidade. E novidade não tem que ser ir escalar o Evereste ou trazer brinquedos sexuais para apimentar a relação. Pode, mas não tem.

A intimidade está relacionada com a ligação emocional, expressão de afecto e sensação de proximidade. E, apesar de crescer rapidamente nos primeiros tempos da relação — já que é um período de grande partilha de sentimentos, histórias de vida, experiências —, depois desacelera. Mas é importante que continue em ascensão, mesmo que mais lentamente. Em geral, metemos o pé no acelerador quando há partilha de informação nova, quando percebemos algo sobre o outro que ainda não conhecíamos, quando mantemos curiosidade pela pessoa que temos ao nosso lado. E esta sensação de livro eternamente por acabar de ler é essencial para manter viva a intimidade, o desejo e a satisfação.

Feliz mês do amor! E se não vos servir para mais nada, que sirva para lembrar que está também nas nossas mãos amar melhor e construir relações mais felizes. Não só neste mês, mas todo o ano, toda a vida.

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