segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

O Significado das coisas!

 A Insignificância De Um Significado

Viver exclusivamente à sombra do que faz sentido é submeter-se ao cárcere do racional, é comprimir-se em uma existência sem jamais permitir que a vida, com sua vastidão misteriosa, nos envolva por completo. É a recusa dos instintos, a rejeição das nuances do sentir, como se o pensamento fosse um soberano tirano e a razão, seu algoz. Quem assim vive transforma os olhos em instrumentos rígidos, insensíveis ao que não pode ser traduzido em conceitos, cegando-se para a delicadeza que pulsa além do visível. Nesse estado, o significado, como um escultor obsessivo, fere a carne da arte, limitando-a, até que dela reste apenas uma forma pálida, aprisionada em nomeações que nada mais contêm senão sua própria insuficiência.
Há momentos em que a vida exige que nos despeçamos do esforço exaustivo de explicá-la e, sobretudo, da pretensão de entendê-la. Shakespeare, em sua inesgotável sabedoria poética, já advertia pela voz de Hamlet: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.” O que foge à compreensão é o que verdadeiramente transcende. Palavras, por mais engenhosas que sejam, morrem em sua tentativa de conter a vastidão do indizível. Elas constroem muros onde deveria haver horizontes, como se pudéssemos capturar o infinito em molduras tão estreitas quanto o pensamento que as criou. A vida, contudo, é indomável: ela escorre por entre os dedos das definições, escapa aos grilhões da linguagem.
Há mais vida nas entrelinhas do que nas palavras, mais verdade nos silêncios do que nos discursos. O poeta Rilke compreendeu essa verdade ao afirmar que “as perguntas são pássaros que jamais se deixam capturar”. Eu, por minha vez, faço das entrelinhas o meu quintal, um espaço onde o indizível floresce livre, onde o sentido é uma possibilidade e nunca uma prisão. É ali que reside a liberdade, esse instante em que o pensamento suspende sua tirania e cessa de tentar abarcar o incomensurável.
O silêncio, para mim, é mais do que ausência de palavras: é um santuário. É nele que encontro o acalanto, a pausa necessária para escapar do ruído incessante das interpretações. Wittgenstein, em seu Tractatus Logico-Philosophicus, dizia que “o que não se pode falar, deve-se calar.” Contudo, em meu silêncio, não calo o indizível, mas acolho sua plenitude. Ele pensa sem pensar, fala sem dizer, habita um limite onde o limite, paradoxalmente, se dissolve.
O meu lar é este espaço onde o pensamento deixa de pensar e a linguagem repousa, exaurida de significar. Nesse universo, tudo pode ser dito porque nada precisa ser explicado. É o território da poesia, onde, como dizia Pessoa, “o mistério das coisas é ser elas próprias.” É ali, nas margens do que escapa ao nome, que o infinito me encontra, não como algo a ser compreendido, mas como algo a ser vivido.
Oliver Harden
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