Bruxelas, 1942. A cidade tremia sob as botas nazistas quando uma jovem professora percebeu algo que lhe dilacerou o coração: algumas das suas crianças usavam estrelas amarelas no peito. Eram selos de morte, impostos para marcar os judeus — não como alunos, mas como alvos.
Andrée Geulen não suportou.
No dia seguinte, fez algo simples. Mas revolucionário. Mandou que todos os seus alunos, judeus ou não, usassem aventais idênticos. Nenhuma estrela. Nenhuma separação. Naquela sala de aula, voltavam a ser apenas o que eram: crianças.
Esse gesto, silencioso e corajoso, foi só o início.
Andrée uniu-se à resistência. Passou a trabalhar com o Comité de Defesa Judaica, uma rede clandestina que escondia crianças em casas seguras. A sua missão era uma das mais cruéis: convencer pais a deixarem seus filhos partirem sozinhos, para que pudessem viver. Muitos pais nunca mais veriam seus filhos. Mas era isso… ou vê-los morrer.
Na própria escola, ela escondeu doze dessas crianças. Continuou ensinando, sorrindo, fingindo normalidade — enquanto salvava vidas.
Até que, numa noite de maio de 1943, o inferno bateu à porta.
Soldados nazistas invadiram a escola, arrancaram as crianças da cama, revistaram tudo. Interrogaram Andrée. Um oficial, com veneno na voz, lançou a pergunta:
— “Você não tem vergonha de ensinar crianças judias?”
Ela encarou-o, firme, com a alma inteira nos olhos:
— “E você? Não tem vergonha de fazer guerra contra elas?”
Andrée Geulen salvou mais de mil crianças. Nunca buscou aplausos. Não pediu medalhas. Apenas escolheu, dia após dia, fazer o que era certo.
Morreu aos 100 anos. Com uma biografia escrita à força de coragem, compaixão… e de um avental que ousou desafiar um império de terror.
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