Em 1948, um homem vestido de cigarro gigante caminhava pelos corredores de um hospital britânico — oferecendo cigarros grátis a pacientes internados.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Mr. Cig
O "Hamam"
Você já se perguntou o que torna o banho turco, ou "Hamam", tão especial?
Os tradutores Vasco V4 e E1
Tradutores Vasco levam-nos (quase) à era da tradução simultânea
Os tradutores Vasco V4 e E1 oferecem tradução em tempo real, com suporte para dezenas de idiomas. Existe margem para melhorias, ainda mais num mundo em que todos têm um telemóvel no bolso
- Público - Edição Lisboa
- Natalia Vásquez
Ter nas mãos os tradutores Vasco V4 e E1 é sentir que estamos perante ferramentas que parecem saídas de um filme de ficção científica, mas que, aos poucos, começam a fazer parte da vida real — embora ainda exista margem para aperfeiçoamentos.
O Vasco funciona com algoritmos que estudam extensas bases de dados de materiais traduzidos para fazer essa tarefa automaticamente. Os V4 e E1 são os mais recentes modelos da marca fundada em 2008 na Polónia, que já havia apresentado o Vasco M3 em 2022.
O tradutor Vasco E1 consiste num par de auriculares de gancho para a orelha direita — e apenas para esta, trata-se de um auricular para cada um dos dois intervenientes na conversa — e que traduzem, diz a marca, mais de 51 idiomas directamente para o ouvido do utilizador. Usá-los exige o download da aplicação Vasco Connect através da Google Play ou da App Store, emparelhar os auriculares com o telemóvel, atribuir-lhes um nome, escolher uma cor para o pequeno LED (útil para os distinguir) e definir uma língua padrão para cada auricular.
Cada auscultador vem com uma caixa de transporte magnética. A autonomia da bateria é de cerca de 3 horas por auricular, e até 10 dias em modo de espera, com recargas adicionais disponíveis através da caixa.
O E1 oferece duas funcionalidades principais de tradução: o modo auricular, pensado para que cada utilizador coloque um auricular e comece a falar na língua que preferir; e o modo altifalante, no qual apenas um dos utilizadores utiliza os auriculares e o outro fala e ouve através do telemóvel.
Este dispositivo pode também ser integrado com o tradutor Vasco V4, um dispositivo com dimensões semelhantes às de um smartphone. O V4 suporta 82 idiomas para tradução de voz, 112 idiomas para tradução de imagens, 108 idiomas para tradução de texto e inclui um sistema próprio de mensagens — o Multitalk — além de 28 cursos de idiomas acessíveis através de uma aplicação de aprendizagem integrada.
Ambos os dispositivos se destacam pela utilização intuitiva e facilidade de transporte e carregamento. O V4 é suficientemente compacto para poder ser carregado numa pequena mala ou no bolso de umas calças. A interface do E1 é intuitiva e não difere da maioria das aplicações, com uma série de itens no menu inicial e uma explicação das funções sempre disponível.
Tradução eficaz
Ambos os tradutores apresentam um bom desempenho em diferentes línguas: espanhol, português, inglês, norueguês, holandês e até mesmo japonês e coreano. No entanto, o E1 — e, em menor grau, o V4 — enfrentam as limitações naturais comuns a este tipo de tecnologia: a conversação deve ser pausada e os utilizadores devem articular bem as palavras, com alguma paciência e clareza.
Quando estas condições são respeitadas, a tradução revela-se bastante eficaz, tanto no V4 como no E1. Mas isso torna-se mais desafiante à medida que a conversa ganha um tom mais informal, com o uso de gírias, risos ou interrupções naturais do diálogo humano.
Os dois tradutores têm uma curva de aprendizagem para entender como funcionam e como podemos tirar deles o máximo proveito. Uma vez que é necessário falar com clareza e fazer pausas frequentes, os tradutores E1 e V4 podem revelar-se mais eficazes em interacções com pessoas conhecidas ou em situações que exigem conversas mais longas — como, por exemplo, pedir um quarto de hotel ou conversar com amigos e colegas.
Embora também possam ser úteis em contextos de conversas mais curtas, como comprar mercearias ou pedir um café, nesses casos, tirar o dispositivo do bolso pode parecer algo forçado ou pouco natural, mesmo quando o sistema se mostra competente a manter a exactidão da tradução com ruído ambiente, como música de fundo.
No modo auricular do E1, por exemplo, o utilizador deve tocar na lateral do auricular para activar um botão que coloca o dispositivo em modo de conversação, permitindo-lhe falar. Embora o gesto seja simples, o processo pode parecer pouco intuitivo ou natural nas primeiras utilizações, tornando menos fluida uma interacção rápida e espontânea com desconhecidos.
De forma geral, os dois tradutores cumprem bem a sua função, mas não estão isentos de limitações. O E1, no modo auricular, por vezes interpreta incorretamente uma pausa como o fim da frase, iniciando de forma prematura a tradução e causando potenciais mal-entendidos. Já o V4 tende a oferecer uma tradução mais precisa, possivelmente por permitir ao utilizador um maior controlo sobre o ritmo da conversa.
Futuro das traduções?
Os tradutores Vasco oferecem diversas vantagens e são bastante úteis em várias situações. O modelo V4, por exemplo, destaca-se pela inclusão de dados ilimitados vitalícios, o que o torna especialmente vantajoso em viagens para países onde o acesso à Internet pode ser limitado.
No entanto, num mundo onde a maioria das funcionalidades que precisamos já estão disponíveis nos telemóveis, pode ser difícil justificar a necessidade de mais um dispositivo dedicado exclusivamente à tradução, especialmente devido ao seu custo elevado (389 euros cada). Ambos os modelos Vasco são comparáveis a alternativas gratuitas, como o Google Tradutor, o que torna difícil argumentar a favor da necessidade de ter aparelhos com funções semelhantes além do telemóvel.
Mesmo o Vasco E1, com a novidade de permitir uma conversa seminatural com tradução simultânea, pode encontrar desafios em convencer os utilizadores a investir num dispositivo que, embora útil, não oferece uma funcionalidade multifuncional e é exclusivamente dedicado à tradução.
O direito de não escolher!
Feliz de quem não escolhe
- Público - Edição Lisboa
- Miguel Esteves Cardoso
Ao escolher quais são os livros velhos que vão para prateleiras distantes e inalcançáveis, para arranjar espaço para os novos, ocorre-me que é detestável escolher, e que o ser humano, esperto e preguiçoso, adia quanto pode o momento da escolha.
Se tivéssemos espaço infinito, com pessoal especializado para manter a higiene e actualizar o inventário, faríamos o que nos está na alma, que é acumular.
A roupa, quando os armários são muitos e a pressa é nenhuma, volta a estar na moda passados uns meros 20 anos, pelo que é um investimento preservá-la e um prazer replicar, quando comentam que somos escravos dos estilistas: “Esta porcaria? Comprei-a em 1995, ainda o Versace estava vivo.”
Tendo de escolher, quanto mais tarde melhor. O adiar é divino: não está Deus sempre a adiar os castigos com que ameaça os infiéis?
Por isso é que os ricos têm aviões só para eles e, quando são obrigados a voar com a piolheira, decidem ao último minuto.
Escolher uma viagem a três meses de distância, só para poupar uns cobres, só não é deprimente para os pobres camponeses como nós.
Não gostamos de condenar nada à morte, ou ao esquecimento, ou à segunda fila, ou a um saco de lenha que “por enquanto” fica na garagem, caso tivéssemos.
A escolha empobrece-nos. E revela a nossa pobreza. A escolha é desleal. A escolha é o resultado da nossa ganância e da nossa volubilidade.
Que alívio seria poder dizer à empregada da loja que tão generosamente nos atura, enquanto hesitamos entre dois tons de verde: “Olhe, desisto: levo todas!”
Dizemos “Não gosto de deitar nada fora” como se fôssemos modelos de preservação e de sustentabilidade. Mas o que somos tem oito letras: forretas.
Os forretas gostam de pagar pouco pelo que adquirem, mas isso é apenas para sobrar mais para poderem adquirir mais coisas. Mas odeiam prescindir das coisas de que já não precisam. Inventam razões para se agarrar a elas. Mas, infelizmente, as casas têm paredes e tectos e não cabem lá todas.