★★★★
LAMPEDUSA
— IR E NÃO CHEGAR
Ana
França
Tinta-da-china, 2025, 167 págs., €16,90
Reportagem
Ana França escreveu várias
reportagens no Expresso sobre as implicações do desastre na ilha (que visitou
três vezes), nas políticas migratórias europeias, e sobretudo na vida de quem
escapou à morte naquela noite, de quem se mobilizou para salvar (Vito no seu
barquinho de pesca, resgatando 47 pessoas) e de quem luta para esclarecer a
verdade sobre o que aconteceu. Em formato de livro, sem as limitações de espaço
do jornal, a autora ampliou muitíssimo a sua abordagem, valendo-se do trabalho
de campo, das entrevistas, e de um mergulho nas minúcias dos processos
judiciais e legislativos.
O resultado é um brilhante
levantamento dos factos, escrito por vezes com fôlego literário, que nos mostra
a realidade brutal a que os migrantes fogem nos países de origem, a odisseia de
inimagináveis tormentos a que se sujeitam, às mãos dos traficantes, até
chegarem à costa do Mediterrâneo (viajando em carrinhas de caixa aberta sem
segurança, sofrendo torturas em prisões no deserto, ou infames abusos sexuais,
no caso das mulheres), culminando na experiência de entrar, sem colete
salva-vidas, num barco decrépito com destino à mirífica, e tantas vezes
ilusória, “porta da Europa”.
Fazendo zoom in e zoom out, o livro narra
ainda impressionantes histórias paralelas de resiliência e perda (a de Solomon
e Adal, hoje na Suécia), integrando-as no quadro de uma lúcida análise
macropolítica.
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