Quando ficou a sós com Esopo, Xantus perguntou o que havia de tão sublime no prato servido.
— Você me pediu o melhor — respondeu Esopo — e eu trouxe a língua.
A língua é a origem da sabedoria, o berço da filosofia, a ponte da ciência. Com ela se ensina, se convence, se constrói cidades, se molda a civilização. É pela língua que se canta, que se ora, que se declara amor, paz e esperança. A língua é o instrumento da luz — o sopro que ergue os homens acima do instinto.
O que poderia haver melhor?
Dias depois, Xantus ordenou-lhe o oposto: que preparasse a pior refeição, para recepcionar visitantes indesejados.
— Traga do mercado o pior que encontrares — disse.
Esopo trouxe, mais uma vez, a língua — mas agora amarga, cruel, insuportável.
— Que coisa horrenda é essa? — questionou Xantus, ofendido.
— Língua — respondeu Esopo. A mesma que consola é a que destrói. É com ela que se mente, que se humilha, que se separa. É a semente das guerras, o veneno das amizades, o estopim das ruínas. É o açoite da calúnia, a lâmina da impiedade.
Nada fere mais do que a língua.
O homem, indefeso por natureza, sem garras, sem presas, sem veneno, recebeu um dom mais poderoso: a linguagem.
E a sua língua — suave como o mel, afiada como uma lâmina — pode tanto levantar um império quanto reduzi-lo a pó.
A língua é, ao mesmo tempo, bênção e maldição.
É a arma de dois gumes que carregamos na boca.
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