O pintor Francis Bacon dizia que a fotografia não é uma figuração da realidade, a fotografia é o que o homem moderno consegue ver. Eu penso que isso significa o seguinte: os antigos não inventaram a pintura porque eram destituídos de câmeras fotográficas: eles inventaram a pintura porque ver o mundo não basta. Os antigos pintariam mesmo que tivessem iPhones.
Há outra história de que gosto muito. Um japonês criou uma agência que alugava seres humanos. Uma mãe solteira, por exemplo, alugou um pai por um dia para a sua filha: “Ela sempre quis conhecer o pai, que era um monstro e eu não sei por onde anda. Então eu aluguei esse pai por um dia na agência”. Essa agência ficou muito famosa no Japão e um dia um programa de TV quis entrevistar um cliente dela. O dono, então, ao invés de indicar um cliente, indicou secretamente um dos atores da agência, que foi para a TV e se passou por um solitário que alugava amigos de final de semana. A trapaça foi descoberta e o dono da agência foi chamado a se explicar. “Eu não queria mostrar um solitário, eu queria mostrar a solidão. Um solitário não tem nada a dizer além de clichés. Ninguém melhor que um artista para mostrar a solidão”.
Existem verdades que transcendem o realismo. Muitas vezes, ver as coisas nuas, cruas, é perdê-las. Muitas coisas só se deixam ver pintadas, nunca fotografadas. Por exemplo, os sapatos estropiados dos camponeses em Van Gogh, e esses pés de camponeses em Sebastião Salgado. Existe uma verdade nesses pés que uma fotografia jamais nos daria. Num sentido bem profundo, misterioso, Sebastião Salgado não era fotógrafo. Era vidente.
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