sexta-feira, 30 de maio de 2025

As nossas necessidades de acordo com as estações!

A margem de frescura

Ontem falei com um vendedor de gelados. Fiz-lhe a pergunta óbvia: “Vendem-se muito mais gelados quando está calor?” Respondeu ele, para me calar: “É matemático, meu amigo: quanto mais custa fazer chegar o produto ao cliente, mais ele procura o produto.”

Ele estava cheio de calor, de fato completo. Estacionar tinha sido um pesadelo. Teve de pedir a um camião de cerveja mal estacionado que se chegasse um bocadinho para o lado mais proibido, para ele caber também.

Quem não bebeu uma cerveja gelada enquanto vê passar um homem a empurrar um carrinho com um barril de cerveja?

Anteontem vi um homem a zangar-se com uma estação de serviço por ter “deixado vender” o gelo todo. Uma pergunta menos egoísta seria: “Como é que vale a pena ter uma arca ligada durante o ano inteiro, e vender o gelo tão barato nos poucos meses em que as pessoas compram gelo?”

As pessoas dizem que gostam do calor, mas, se calhar, gostam é de coisas fresquinhas — e acham (erradamente) que só quando está calor é que as coisas fresquinhas sabem bem.

As pessoas gostam é de contrastes: das chamas de uma lareira quando neva lá fora, da tarde de Agosto em que dão com uma Coca-Cola esquecida, vinda do fundo do frigorífico, que está tão confusa que gela quando a abrimos. Procuramos sempre consumir o que dá mais trabalho a manter — o quentinho quando está frio, o geladinho quando está calor.

Quem quisesse mesmo assistir a uma revolução popular em Portugal, bastaria autorizar um aumento no Verão de 1 euro pelas coisas arrefecidas e no Inverno de 50 cêntimos pelas bebidas quentes.

Nos países tropicais é repugnante quando a água está quase tão quente como o dia: é como aquela sombra aldrabona onde não se nota qualquer alívio da torreira.

Para mim, o mais importante é a margem de frescura. É a diferença em graus Celsius entre a temperatura do dia e aquela que eu consigo obter com as minhas manigâncias, como ter as pernas mergulhadas num caixote de lixo cheio de água gelada. 

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