quinta-feira, 21 de agosto de 2025

A saudade

 A saudade que uma mãe sente dos filhos crescidos é um grito que não faz som.

Não aparece em fotos bonitas no Instagram, não se marca com curtidas, não se mede pelos parabéns frios no WhatsApp.
É um vazio que se senta à mesa na hora do almoço, um silêncio que se estende pelo corredor, um café que esfria na xícara, esperando por alguém que não chega.
Ela se lembra do menino que corria pela casa com os pés descalços e sorriso aberto, do choro sentido por um joelho ralado, das madrugadas interrompidas por um pedido de colo.
Hoje, ele é um homem.
Mas o coração de mãe… o coração de mãe não reconhece aniversários esquecidos, não lê calendários, não aprende a desapegar.
Ela não quer segurar ninguém pela asa.
Só queria mais um dia — um dia comum, sem data especial, sem cerimónia.
Queria ouvir um “olá, mãe” sem pressa, servir um prato sem olhar para o relógio, sentir o peso de um abraço sem ter medo de que fosse o último.
Por isso, ela reza.
Reza enquanto lava a louça, como quem tenta limpar a alma.
Reza enquanto ajeita uma foto na estante, como quem acaricia um pedaço do passado.
Reza porque é o único jeito de continuar cuidando, mesmo quando não é mais chamada para cuidar.
Os filhos crescem, criam asas, erram, acertam, vão...
Mas dentro dela, continuam sendo os mesmos pequenos seres que ela carregou antes de existirem.
E é nesse espaço invisível, entre o amor e a saudade, que mora a dor mais bonita e mais cruel que uma mãe pode sentir.



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