No rastro sombrio deixado pela Primeira Guerra Mundial, quando multidões de soldados regressavam com cicatrizes que os olhos viam e feridas que a alma escondia, um episódio inesperado iluminou os jardins de St Dunstans, em Brighton.
Ali, onde homens cegos reaprendiam a viver sem a visão, surgiu uma guia improvável: Ruby Crane, uma menina de apenas três anos. Com a sua mão minúscula, conduzia aqueles gigantes privados da luz, perguntando-lhes para onde desejavam ir e levando-os com a naturalidade de quem não enxerga fragilidade nem força, apenas humanidade.
Os veteranos, acostumados ao silêncio da escuridão, encontravam no riso e na voz cristalina de Ruby um alívio inesperado: a ternura que devolvia cor aos seus dias. A comoção espalhou-se por toda a Inglaterra, e de todos os cantos lhe chegavam bonecas e brinquedos, enviados por estranhos que agradeciam o incalculável — a sensação de serem vistos de um modo diferente.
Ruby guardou para sempre essa memória: “Minha mão era tão pequena dentro das delas… estavam tão felizes por uma criança vir falar com eles.” A sua imagem marcou a capa do primeiro relatório anual de St Dunstans e inspirou emblemas solidários do Dia da Bandeira.
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