sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Oliver Harden pergunta

 As Perguntas que Ninguém Responde

Diga-me, afinal, quem sou eu? Mas diga-me com urgência, antes que o tempo dissolva esta pergunta no vazio, pois já me sinto, agora mesmo, dissolver, como um punhado de areia jogado ao vento. Sou apenas esta voz que pergunta, ou sou também aquele que escuta? E se sou ambos, quem, então, é o verdadeiro?
Há noites em que acordo de súbito, tomado por um pensamento inominável. Algo sussurra dentro de mim, como se uma segunda consciência despertasse nas sombras do meu próprio ser, “O que queres da vida?”, pergunta essa voz, e eu hesito. Sim, hesito porque nunca soube o que realmente quero. A verdade é que não sei sequer se quero alguma coisa. Ah, mas como é humilhante não saber desejar, como é cruel estar vivo e não possuir um desejo nítido que arraste a existência para além do próprio absurdo!
E se o que desejo não me pertence? Se o que me move são vontades emprestadas, reflexos de um espelho que não é o meu? Pois já observei homens que andam pela vida carregando paixões como fardos, não porque as escolheram, mas porque lhes foram dadas, como um destino irremediável. E eu, o que realmente me pertence?
E se, no fundo, eu não for quem penso ser? Não sou, afinal, uma soma de encontros, de frases ouvidas ao acaso, de livros lidos sem plena compreensão? Sim, sim, sou um mosaico de fragmentos roubados, uma colagem de gestos e ideias de outros homens. E se me tirassem tudo isso, o que restaria?
Diga-me, então, se amanhã eu desaparecesse, alguém realmente sentiria minha ausência? Ou apenas notariam o espaço vazio que eu ocupava, como se notam os móveis deslocados numa sala? A minha existência deixa marcas ou apenas leves ondulações que se apagam no instante seguinte?
E se Deus, este mesmo Deus que ora ignoro, ora temo, não for mais do que uma invenção do meu desespero? Se Ele não me observa, se Ele não me julga, se Ele sequer existe, então quem me condena senão eu mesmo? Ah, eis a pior das respostas, pois se sou meu próprio juiz, então sou também meu próprio carrasco.
E se o sentido da vida for apenas seguir em frente sem jamais encontrar resposta alguma? Então por que ainda pergunto? Por que insisto em cavar este abismo dentro de mim? Ah, mas não posso evitar, perguntar é o meu único consolo.
E, no entanto, quem me garante que, ao final, alguma resposta realmente importa?
Oliver Harden
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