sexta-feira, 18 de abril de 2025

Uma análise diferente da "alegoria da caverna" de Platão

À luz da alegoria da caverna, como delineada por Platão na República, observamos que o impulso predominante entre os homens não é o da ascese rumo à luz do sol, símbolo inteligível do Bem e da Verdade, mas sim a permanência voluntária nas sombras, nas projeções ilusórias que, embora empobrecidas de realidade, oferecem o consolo da familiaridade e da posse imaginária. Não aspiram à claridade que fere os olhos, mas à obscuridade que conforta a ignorância.
A caverna, neste cenário, deixa de ser apenas prisão, tornando-se lar. Não mais condição imposta, mas escolha reiterada. O homem contemporâneo, ou talvez eterno, não teme tanto a escravidão quanto o desamparo da liberdade. Preferirá sempre a segurança das paredes sombrias, à vastidão iluminada.
E se, à maneira de Dante Alighieri, quisermos adornar esse símbolo com um acréscimo literário e metafísico, poderíamos muito bem inscrever, no umbral dessa morada subterrânea, uma advertência adaptada da Divina Comédia, agora não mais voltada ao Inferno, mas à clausura voluntária do espírito: “Vós que entrais, abandonai toda a ambição”. Pois aqui não se almeja o alto, não se busca o eterno, mas apenas o consolo imóvel de uma falsa completude.
Esta inscrição, ainda que menos infernal e mais conformista, revela uma renúncia semelhante, não à esperança, mas à inquietação, não à salvação, mas ao desejo. Pois ambicionar, no sentido mais nobre do termo, é reconhecer-se incompleto, é desejar o que excede, é deixar-se mover pela luz que brilha além das cavernas da alma.
May be art of crowd


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