quinta-feira, 15 de maio de 2025

A morte de Dom Quixote

 A morte de Dom Quixote narrada por Miguel de Cervantes no final de Dom Quixote de la Mancha (1605–1615), marca não apenas o fim de uma aventura literária, mas o encerramento simbólico de uma era.

Escrita no contexto da transição entre o mundo medieval e o mundo moderno, a obra dialoga com profundas transformações culturais, sociais e políticas da Europa do século XVII.
Dom Quixote representa a persistência dos ideais cavaleirescos numa época em que tais valores já estavam em declínio, substituídos pela racionalidade renascentista e, posteriormente, pelo pensamento moderno.
A luta do cavaleiro contra os moinhos de vento, símbolo da desilusão frente à realidade, tornou-se uma metáfora poderosa para a tensão entre o idealismo e a razão, entre o sonho e a ordem pragmática do mundo moderno.
A figura de Quixote ultrapassa os limites da literatura para se tornar um ícone cultural e filosófico. Intelectuais como Miguel de Unamuno, Ortega y Gasset e até pensadores modernos interpretaram o personagem como um símbolo do espírito humano diante da decadência de valores e da crise de sentido nas sociedades ocidentais.
A transcendência de sua morte é, portanto, mais do que literária, é histórica. Representa o fim de uma mentalidade e o nascimento de uma nova consciência, marcada pelo conflito entre a utopia e a desilusão, pela afirmação da subjetividade e pela complexidade do homem moderno.
Cervantes,ao mesmo tempo que satiriza os romances de cavalaria, presta homenagem ao poder da imaginação como resistência frente à aridez do mundo real.



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