domingo, 4 de maio de 2025

Crianças - escolher e ou decidir?

 

As crianças devem aprender a escolher e a decidir?

Se é importante permitir às crianças que aprendam a escolher, também não é menos verdade que há decisões que compete aos adultos tomar

NICOLETAIONESCU/GETTY IMAGES/ISTOCKPHOTO

O filósofo Charles Pépin defende que aprender a escolher e a decidir é algo que deve ser ensinado às crianças e, na sua opinião, as ocasiões não faltam. De acordo com a visão enunciada no livro La confiance en soi, devemos ensinar às crianças a diferença entre escolher e decidir, explicando-lhes que não devem esperar por esclarecer todas as suas dúvidas para se decidirem. A liberdade reside na capacidade de avançar, apesar das dúvidas.

Mas esta aprendizagem — sem dúvida exigente — é, por natureza, gradual: aprendemos primeiro a escolher e, depois, com o tempo e a maturidade, ousamos decidir. Assim, se as crianças aprenderem inicialmente a escolher, mais tarde, quando se tornarem adultas, estarão mais bem preparadas para tomar decisões.

Pépin sugere que comecemos por incentivar as crianças a experimentarem a possibilidade de escolher nas coisas mais simples: na escolha entre dois cadernos a adquirir, dois ateliers a realizar, dois amigos a convidar ou duas atividades extracurriculares a frequentar. Também na escola, as crianças devem ser envolvidas nas escolhas que lhes dizem respeito. Podem escolher o tema que desejam aprofundar no seu projeto de investigação e a forma como pretendem gerir as suas atividades nas horas destinadas ao tempo de estudo autónomo. No entanto, vão ter de prestar contas sobre as suas opções, assumindo a responsabilidade pelas suas escolhas e pela consecução dos objetivos que traçaram.

Quando as crianças escolhem, há sempre a possibilidade de se enganarem ou de ainda não serem capazes de fazer um bom uso da sua liberdade, devendo assumir, passo a passo, a correspondente responsabilidade.

Mas, mesmo quando falham, existe uma oportunidade para aprenderem com aquilo que correu menos bem, tirando ilações para o futuro. O importante é que vão ganhando confiança na possibilidade de optarem, fazendo uso da sua liberdade, indissociavelmente ancorada na noção de responsabilidade. Nessa caminhada, as crianças necessitam de se sentir apoiadas pelos seus adultos de referência, a quem cabe delimitar os riscos, ajudá-las a refletir e a tirar conclusões, corrigindo os erros, quando necessário.

Devemos envolver as crianças em todas as escolhas? Será que pelo facto de envolvermos as crianças em algumas escolhas, devemos deixar todas as opções nas suas mãos? É caso para dizer que nem tanto ao mar nem tanto à terra, porque quando se colocam todas as escolhas nas mãos das crianças pode cair-se no extremo oposto, permitindo que façam escolhas desadequadas ou que gastem um tempo excessivo com hesitações.

Entre as escolhas que não se revelam adequadas contam-se aquelas em que as crianças escolhem ir para a escola sem meias e de sandálias em pleno Inverno, ou optam por ir para uma visita de estudo sem impermeável num dia de chuva porque acham que o casaco não ficava bem com a restante toilette.

Já entre os tempos de escolha que parecem excessivos destacam-se aqueles em que as crianças gastam um tempo infindável pela manhã a escolher a roupa ou o brinquedo a levar para a escola, atrasando toda a família na saída de casa e deixando os pais à beira de um ataque de nervos.

Estes exemplos servem para ilustrar que, nestas como noutras questões, o bom senso deve sempre prevalecer. Não é pelo facto de as crianças, em determinadas circunstâncias, poderem realizar escolhas que esta prerrogativa é extensível a todas as situações da vida familiar. Nesta linha, cabe a cada família definir qual a margem de escolha das crianças e as circunstâncias às quais se aplica.

Devemos deixar as decisões nas mãos das crianças? Se é importante permitir às crianças que aprendam a escolher, também não é menos verdade que há decisões que compete aos adultos tomar. As crianças ainda não são adultas e, como tal, não dispõem da maturidade necessária para tomar decisões importantes para a sua vida, não sendo capazes de prever as suas consequências, a curto ou a longo prazo, nem tão pouco sendo expectável ou desejável que o façam. Exemplificando, quando se trata de decidir se uma criança condicional, ou seja, que completa os seis anos entre 16 de setembro e 31 de dezembro, deve ingressar no 1.º ciclo no ano letivo seguinte ou adiar a matrícula por mais um ano, essa decisão não pode ser deixada nas mãos da criança.

Perante essa opção, a maioria das crianças compreensivelmente desejariam acompanhar os seus amigos na transição para o 1.º ano, mas uma decisão com este impacto no futuro da criança tem de basear-se em critérios relacionados com a sua maturidade, contando com o parecer do educador, dos pais, do pediatra ou de outro especialista consultado.

Uma das diferenças estruturais das crianças radica precisamente na sua necessidade de proteção e de orientação por parte dos adultos. Essa necessidade só pode ser assegurada desde que estes assumam o papel que lhes cabe por inerência na hierarquia intergeracional, pelo facto de serem adultos e de terem experiência de vida.

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