sábado, 31 de maio de 2025

Horrores ao longo da história!

 Hoje assistimos com horror práticas como a mutilação genital feminina em África, e com razão. Mas o que muitos ignoram é que, por mais de um século, médicos na Europa e América do Norte também cortaram, coseram e removeram partes do corpo feminino... com bata branca e justificação científica.

Mesmo em pleno século XX, ginecologistas em Inglaterra, Alemanha e nos EUA realizaram clitoridectomias, ooforectomias e histerectomias como tratamentos para “dolências femininas” tão amplas quanto ansiedade, epilepsia, tristeza... ou até mesmo masturbação.
Sim, a masturbação feminina era considerada uma patologia.
Na era vitoriana, surgiu o conceito de histeria feminina, um diagnóstico vago que abrangia desde a insónia até a “tendência para causar problemas”. Muitas vezes, bastava que uma mulher não se encaixasse no ideal social: caseira, submissa, silenciosa.
Uma mulher curiosa, rebelde ou simplesmente cansada... podia ser presa.
E uma vez lá dentro, não tinha defesa.
Acreditava-se que a histeria fosse causada por um "útero errante". A solução: removê-lo. Ou remover os ovários. Ou o clitóris.
O doutor Isaac Baker Brown, uma figura respeitada na medicina inglesa do século XIX, promoveu a clitoridectomia como cura milagrosa. Ele não foi expulso por mutilar genitais. Foi por não informar os maridos sobre as mulheres que operava.
E enquanto se continuava a conhecer a função do clitóris — sim, sabia-se que era importante para a concepção —, as intervenções continuaram.
Nos EUA, até 1905, os lábios das meninas eram cosidos para evitar que elas se tocassem.
Até 1937, a remoção do clitóris era prática clínica para “curar” a cleptomania ou a melancolia.
Em 1938, um médico alemão publicou um caso de infibulação — a forma mais extrema de mutilação genital — realizada numa paciente com instrumentos esterilizados, sim... mas com as mesmas consequências devastadoras.
O mais cruel de tudo é que não foram práticas isoladas.
Eles foram legitimados. Aplaudidas. Ensinadas.
E os seus ecos ainda estão vivos. Em cirurgias plásticas genitais. Na rejeição dos próprios corpos. Naquela ideia não dita de que “há algo errado”.
Porque quando uma cultura castiga o prazer, mutila mais do que carne.
Mutila o direito de habitar.

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