domingo, 1 de junho de 2025

A sociedade da futilidade!

A ruína intelectual da sociedade: das dancinhas do TikTok aos bicos de pato no Instagram
Vivemos uma era em que a ruína do espírito não se dá pela ausência de informação, mas pelo excesso de futilidade. Nunca se produziu tanto conteúdo, nunca se publicou tanto, nunca se falou tanto, e, paradoxalmente, nunca se pensou tão pouco. O que está em crise não é apenas o conhecimento, mas o próprio valor da inteligência como princípio ordenador da vida pública.
A sociedade contemporânea, marcada pela velocidade e pelo espetáculo, parece ter abdicado de sua vocação reflexiva. No lugar da palavra elaborada, temos o bordão. No lugar do pensamento, a performance. No lugar do rosto como espelho da interioridade, o bico de pato. Não se trata aqui de desprezar manifestações populares, nem de defender uma postura elitista, mas de apontar para um fenômeno mais grave, o esvaziamento da consciência crítica em favor de um narcisismo lúdico e viral.
As dancinhas do TikTok, que se repetem obsessivamente em milhões de telas, são mais do que entretenimento. Elas revelam uma sociedade que substituiu o conteúdo pelo algoritmo, o saber pela coreografia, o pensamento pela imagem em movimento. Já os bicos de pato no Instagram, replicados como gestos estéticos padronizados, evidenciam um narcisismo digital domesticado, onde o rosto é moldado não pela singularidade da alma, mas pelas exigências do engajamento virtual.
Estamos diante de um niilismo de superfície, como poderíamos chamar com uma inflexão nietzschiana. Um vazio que não tem mais a densidade trágica dos grandes dramas existenciais, mas que se tornou fluido, silencioso e decorado com filtros coloridos. A ignorância já não se proclama como ausência de saber, mas como desinteresse pela verdade. Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo, havia previsto esse colapso, a realidade foi substituída por representações, e estas se tornaram tão onipresentes que já não sabemos onde termina a imagem e começa o mundo.
A crítica aqui não recai sobre as redes sociais em si, mas sobre a colonização da subjetividade pela lógica do entretenimento. A vida se tornou conteúdo, o corpo se tornou mercadoria, a atenção se tornou moeda. Perdemos o silêncio, a pausa, a profundidade. Pensar exige tempo, exige densidade, exige fricção com o real, e tudo isso foi abolido pela ditadura da leveza, da velocidade, da pose incessante.
A política transforma-se em meme, a arte em produto viral, a linguagem em slogan. O sujeito contemporâneo já não é convocado a compreender o mundo, mas a reagir a ele com emojis. A educação não forma mais cidadãos, mas produtores de conteúdo. E, como previu Ortega y Gasset, a mediocridade já não é percebida como limitação, pois tornou-se norma cultural.
O que se perde, nesse processo, é a própria experiência da interioridade. O sujeito já não se volta para dentro, já não se pergunta o que sente, o que pensa, o que deseja. Ele apenas performa. E quando a performance substitui o pensamento, o espírito morre.
É urgente, portanto, recuperar a dignidade do pensamento. Resgatar o valor da leitura, do silêncio, do argumento, da contemplação. É preciso recusar a lógica do imediatismo, da viralização vazia, da padronização estética. Em tempos de exibição permanente, pensar é o último gesto de resistência.
A verdadeira rebeldia, hoje, é recusar o automatismo da cultura digital. É afirmar a singularidade contra o algoritmo. É preferir o silêncio reflexivo à coreografia compulsiva. Porque uma sociedade que abdica de pensar cava, com suas próprias mãos, a cova de sua liberdade.
Oliver Harden
May be a black-and-white image of 3 people and phone

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