sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O Namoro

 

 

Fim do namoro levou a mais agressões e a mais pedidos de ajuda à APAV

Faixa etária dos 18 aos 44 anos é a mais afectada

Violência no namoro

Pela primeira vez, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) compilou dados sobre a violência no namoro, e a conclusão foi que, em 2024, o número de vítimas após a ruptura da relação foi mais do que o dobro registado durante a relação, ou seja, a violência não termina necessariamente com o fim da relação.

Do total de 1023 vítimas de violência no namoro apoiadas pela APAV, 691 já tinham terminado a relação, mas ainda continuavam a ser alvo de violência, e 332 ainda estavam na relação. Os dados não têm comparativo com anos anteriores, pois esta foi a primeira vez que a APAV desagregou esta estatística do total de vítimas que tem registado anualmente. A violência no namoro está enquadrada no crime de violência doméstica.

Além disso, a percentagem de quem fez denúncia a outras entidades antes de procurar a APAV foi maior nos casos pós-ruptura — quase 60%, comparando com 45,2% durante a relação. Isso pode sugerir que as vítimas se sentirão mais seguras para denunciar e procurar apoio depois de se distanciarem da relação abusiva. Não há, porém, informação específica sobre o tipo de violência sofrida por estas vítimas. Os números de 2024 relativamente ao apoio da APAV a vítimas de vários tipos ainda não estão apurados, mas as de violência doméstica têm vindo a aumentar: em 2021 foram 9275, em 2022 10.442, e em 2023 foram 11.400.

Os dados compilados pela APAV diferenciam as relações de namoro de acordo com o que foi especificado pelas vítimas, esclarece ao PÚBLICO

Patrícia Ferreira, do gabinete de apoio à vítima do Cadaval — ou seja, os casos considerados foram exclusivamente aqueles em que a agressão ocorreu dentro de uma relação de namoro, em que não havia coabitação.

Tanto no caso de vítima de violência durante a relação de namoro, quanto depois da ruptura, verificaram-se padrões semelhantes. A maioria das vítimas eram mulheres (quase 90% nos dois casos), seguidas por homens (mais de 11%) e pessoas intersexo (no primeiro caso, 0,3% e, no segundo caso, de 0,1%).

A faixa etária mais afectada nas duas circunstâncias situou-se entre os 18 e os 44 anos, o que revela que a violência no namoro não atinge apenas adolescentes e jovens adultos, mas também pessoas em fases mais avançadas da vida. No caso das vítimas pós-ruptura, quase 72% das vítimas eram portuguesas e 18,5% estrangeiras; nas vítimas durante a relação, 65,1% eram portuguesas e 22% estrangeiras. Lisboa, Porto e Faro foram onde houve mais queixas.

Segundo Patrícia Ferreira, o facto de os dados sobre violência pós-ruptura serem tão altos mostra que muitas vítimas não conseguem, sozinhas, implementar estratégias para se afastar definitivamente do agressor, daí a necessidade de um apoio especializado para que possam romper com a relação abusiva de forma segura e evitar novas situações de violência. Muitas vezes, a violência começa antes da ruptura, mas ganha novos contornos na ruptura por uma das partes não aceitar o fim da relação.

O apoio da APAV é a nível jurídico, para acompanhamento em processos-crime e nos contactos com o sistema de justiça; a nível psicológico e emocional, para lidar com as consequências do trauma e recuperar a autonomia; e a nível prático, nomeadamente no aconselhamento e na criação de estratégias para a segurança da vítima, sublinha a técnica. “A intervenção psicológica estruturada é fundamental para tratar as consequências de terem sido vítimas”, sublinha.

Já sobre as faixas etárias mais atingidas, não são muito diferentes das da violência doméstica em geral — os dados de 2023 mostram que a incidência era numa média de idades entre os 36 e 45 anos. Sobre menores de 17 anos, a recolha feita pela APAV revela que 66 pessoas se queixaram de violência no namoro, 30 durante e 36 depois da ruptura.

As consequências do desejo

 


O Paradoxo dos Desejos: Efemeridade da Vontade, Eternidade das Consequências

A existência humana é uma sucessão de impulsos que se chocam contra a rigidez do real. Somos movidos por desejos, aqueles fogos breves que incendeiam a alma, consumindo-se rapidamente na experiência do presente. No entanto, embora o desejo seja efêmero, as suas consequências não compartilham da mesma transitoriedade. Uma decisão tomada no ímpeto de um instante pode reverberar pela eternidade, moldando destinos, corroendo consciências, esculpindo cicatrizes invisíveis no tecido da psique.
Freud já apontava para a natureza compulsiva do desejo, essa pulsão que brota do inconsciente e busca sua descarga imediata. O prazer, enquanto fenômeno, é breve; mas o que dele decorre pode transcender sua duração. Há nisso uma ironia fundamental: quanto mais instantâneo o desejo, mais permanente pode ser a sua marca. A história humana é repleta de exemplos trágicos desse paradoxo—guerras deflagradas por paixões momentâneas, traições cometidas em segundos e lamentadas por uma vida inteira, escolhas impensadas que definem o destino de um indivíduo ou de uma civilização.
Dostoiévski, em sua exploração da psique humana, nos deu personagens que vivem à mercê dessa dinâmica. Raskólnikov, em Crime e Castigo, acredita que um ato pontual—um assassinato justificado por uma lógica utilitarista—poderia libertá-lo do peso de sua condição social. Mas seu desejo de provar sua superioridade filosófica colapsa sob o peso de sua consciência. O ato dura instantes; a culpa, no entanto, se torna sua prisão perpétua.
Nietzsche, ao proclamar a transvaloração de todos os valores, nos alerta para o perigo da moral tradicional, que reprime os impulsos e domestica a vontade. Mas o que acontece quando o desejo se liberta de qualquer amarra? Quando a existência se torna um ato de pura afirmação instantânea, sem a consideração do que virá depois? Há um abismo nesse pensamento, pois, se tudo é permitido ao instante, o homem pode se tornar escravo de suas próprias vontades passageiras, sem perceber que, ao ceder a elas, pode estar hipotecando sua eternidade.
O tempo é assimétrico: o desejo que nasce e morre num instante pode lançar suas sombras sobre uma vida inteira. O prazer de uma mentira pode ser breve, mas o peso da desconfiança que ela gera pode ser perpétuo. Um erro cometido em um momento de impulso pode construir uma cadeia de eventos irreversíveis.
A sabedoria, então, consiste em compreender essa dialética entre o instante e a permanência. O verdadeiro desafio da existência não é sufocar o desejo, mas compreendê-lo e reconhecer que cada escolha traz consigo um eco que pode ultrapassar sua origem.
A pergunta que resta é: estamos prontos para suportar a eternidade das nossas próprias decisões?
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O movimento surrealista



  O surrealismo foi um movimento artístico e literário que surgiu na Europa no início do século XX, influenciado pelas ideias do psicanalista Sigmund Freud e pelo movimento dadaísta. Seu objetivo era libertar a mente da lógica e da razão, explorando o inconsciente, os sonhos e a imaginação sem restrições.

O termo “surrealismo” foi cunhado pelo poeta francês Guillaume Apollinaire em 1917, mas o movimento foi formalmente fundado pelo escritor André Breton, que publicou o Manifesto Surrealista em 1924. Breton definia o surrealismo como um “automatismo psíquico puro”, ou seja, uma forma de expressão sem a interferência da consciência ou do raciocínio lógico.
O surrealismo se manifesta na literatura, na pintura, no cinema e até no teatro. Algumas de suas principais características são:
• Exploração do inconsciente e dos sonhos
• Imagens oníricas e ilógicas
• Uso da técnica do automatismo (escrita ou desenho espontâneo)
• Desafios às normas da realidade e da racionalidade
• Elementos fantásticos e simbólicos
• Influência da psicanálise de Freud e das associações livres de pensamento
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