segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

O Natal da minha infância

O Natal da minha infância!

Na altura morava com os meus pais, a minha irmã e os meus avós. O mês de dezembro era mágico! Bem cedo começava a azáfama dos preparativos para a festa. Os meus tios, que viviam ao lado da nossa casa, decidiam quando matar o porco. O meu tio Mário combinava com alguns amigos e vizinhos o dia que melhor lhes convinha para realizar a "função do porco". Nesse dia, a excitação era plena. Íamos assistir a algo que só acontecia uma vez por ano. O porco depois de morto, a muito custo, era pendurado e o seu pelo queimado com uma espécie de maçarico. Depois era aberto, e tudo se aproveitava. Recebíamos em nossa casa, meio porco, que a minha avó, exímia na arte de salgar a carne, conservava em alguidares, pois não havia ainda frigoríficos na época. Entretanto, a minha mãe, uma excelente pasteleira, confecionava todos os doces da época: as areias, as broas de corinto, as de mel entre outras. E, por fim, era tempo de amassar os bolos de mel caseiros fantásticos, ainda hoje tenho na memória o seu sabor. A massa ficava a levedar de um dia para outro, depois era colocada em várias formas próprias e levada para uma padaria que existia abaixo da Boa Nova. Quando o carro da padaria chegava lá a casa com os bolos de mel prontos a serem comidos tínhamos mais um momento de êxtase.

Os dias demoravam a passar e a nossa ansiedade crescia. Era altura de montar as decorações de Natal, a árvore na sala. O meu pai, que era uma artista da eletricidade, ficava encarregue das iluminações. Nós, eu e a minha irmã, éramos os ajudantes do "Pai Natal". Os presentes, esses, eram um mistério para nós. Os nossos pais eram autênticos agentes secretos. As searas eram semeadas e o presépio e a lapinha eram montados com toda a pompa e circunstância. Nada era esquecido, não era preciso uma lista, a minha mãe e a minha avó eram peritas em planear tudo ao pormenor. O meu tio trazia o pão cozido em forno a lenha, diga-se de passagem, uma delícia. 

E, de repente, estávamos na noite de Natal! Os preparativos na cozinha, a carne de vinho e alhos, a canja e as sandes de galinha, para não falar das iguarias doces e salgadas da época. Mas só podíamos usufruir delas depois da missa do Galo. Íamos dormir, iam todos para a missa do galo exceto o meu avô que ficava a cuidar de nós. Após regressarem da missa, que se realizava na Escola de Artes e Ofícios, na Rochinha, eramos acordados para comermos a ceia de Natal ao som de músicas típicas da época. Nessa noite tínhamos autorização para ficarmos até mais tarde.

No dia seguinte, abríamos os presentes, não eram muitos, mas os essenciais, com os quais brincávamos o dia de Natal inteiro. Durante a manhã, chegavam a minha avó Gabriela, a mãe da minha mãe, e a minha tia Rita, a irmã da minha mãe. O almoço era o momento alto da festa, todos sentados à mesa, falando, rindo. No final do repasto, os adultos, já um pouco tocados devido ao vinho e aos licores, dançavam ao som das músicas tradicionais de Natal. Nós, os mais novos, que só tinham direito a sumos, estávamos sóbrios. 

Sem televisão, sem telemóveis, sem redes sociais éramos felizes e não sabíamos!

Dedico este texto a todos os meus familiares que já não estão presentes fisicamente entre nós, mas que ficarão para sempre na nossa memória e no nosso coração. Todos eles contribuíram para que os nossos Natais fossem mágicos e inesquecíveis.




Sem comentários:

Enviar um comentário