domingo, 9 de fevereiro de 2025

A contra informação ou a falsa perceção?

 

Onde está a verdade?

Vivemos numa época de “factos alternativos”, notícias falsas, mentiras repetidas várias vezes que se tornam aceites com verdades e perceções que se sobrepõem às provas. É por isso cada vez mais difícil saber quão perto estamos da verdade. Usando como critério para lá chegar a quantidade e solidez das provas, facilmente concluímos que a aplicação rigorosa do método científico é a nossa arma mais poderosa. Isto apesar das limitações deste método sistemático.

Einstein terá afirmado que “nenhuma quantidade de experimentação pode provar que estou certo; uma única experiência pode provar que estou errado”, o que reflete as limitações do método científico. Provavelmente, referia-se à dificuldade ou incapacidade da ciência em provar algo definitivamente.

De facto, a ciência lida com modelos e hipóteses (em linguagem mais comum, teorias, termo que utilizarei), que vão resistindo, ou não, à sua testagem controlada e à luz de novos conhecimentos. Mas isto não quer dizer que não seja possível acumular provas suficientes para afirmar algo com certeza e ter teorias que resistem ao teste do tempo. Por exemplo, a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin tem sido testada ao longo de cerca de 170 anos e todas as provas recolhidas a apoiam. Por isso, é seguro afirmar que não é apenas mais uma teoria e que explica cabalmente a diversidade da vida na Terra.

Não podemos é pôr ao mesmo nível provas obtidas através do método científico, que implica a sujeição à avaliação pelos pares e crenças ou suposições.

Por isso, não devemos discutir no mesmo plano a teoria da evolução das espécies de Darwin e o design inteligente ou a prova de que a Terra é redonda e o “terraplanismo”. E aqui a comunicação social pode e deve contribuir para garantir que os planos não se misturam.

Claro que deve haver debate de ideias, mas entre diferentes teorias que seguem o método científico e foram submetidas à avaliação por pares. Também pode haver debate entre o que nem sequer são teorias científicas, mas num contexto diferente. De facto, têm surgido nos últimos anos vários tipos de negacionismo, das vacinas às alterações climáticas, mas que não têm qualquer prova científica que as apoie; ou são apoiadas por provas submetidas a revisão por pares mas falsificadas, como é o caso da ligação entre as vacinas e o autismo.

Numa altura em que temos à disposição um manancial de informação sem precedentes, o que não significa necessariamente conhecimento, é preciso mais do que nunca ser crítico e não apenas alinhar com a maioria. De facto, não é por haver muita gente a dizer algo que isso se torna verdadeiro. Muitas vezes é o contrário, pois uma mentira sensacionalista tem mais eco nas notícias e nas redes sociais que uma verdade trivial.

Mesmo no meio científico, novas teorias começam muitas vezes com uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas que desafia o conhecimento estabelecido. Desta forma, é crucial avaliar como foram testadas as teorias, quais as provas existentes e como foram demonstradas. Claro que isto requer conhecimento técnico e por isso a comunicação de ciência, feita por cientistas e jornalistas, é tão importante.

Podemos, assim, concluir que a ciência é a nossa maior aliada nesta procura incessante pela verdade sobre o mundo que nos rodeia. Não que seja perfeita, pois é um edifício em constante construção e uma teoria só é válida até que surja uma prova que a substitua por outra. Mas o método científico já demonstrou que é o melhor que existe e por isso deve ser seguido e defendido sem reservas.

Professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa

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