domingo, 9 de fevereiro de 2025

As crianças também sofrem

 

A psicoterapia na infância: reforçar as bases para o desenvolvimento emocional

Ao longo do tempo, a investigação sobre os efeitos do tratamento tornou-se mais rigorosa e precisa, documentando com clareza as técnicas mais adequadas para cada problemática

SVT1992/GETTY IMAGES

À semelhança dos adultos, as crianças podem sofrer de stress, ansiedade, depressão e dificuldades interpessoais. Uma vez que as suas capacidades de regulação emocional ainda estão em desenvolvimento, quanto mais nova for a criança, maior a dificuldade de gestão dos sentimentos complexos. É comum estas adversidades manifestarem-se através de alterações comportamentais e emocionais, o que aumenta o desafio dos pais.

Os esforços para ajudar crianças e jovens a lidarem com dificuldades emocionais e comportamentais são antigos e a crescente percepção da importância deste tipo de apoio foi favorável à evolução de modelos e métodos de psicoterapia. A compreensão da psicopatologia da infância e da adolescência evoluiu significativamente, inf uenciando a forma como os problemas de saúde mental das crianças e jovens são avaliados, compreendidos e tratados.

Ao longo do tempo, a investigação sobre os efeitos do tratamento tornou-se mais rigorosa e precisa, documentando com clareza as técnicas mais adequadas para cada problemática. Este avanço permitiu a personalização da psicoterapia e aumentou a probabilidade de sucesso das intervenções.

No final do século XX, a psicoterapia da criança e do adolescente contava com diversas abordagens baseadas em evidências para diferentes condições, sendo a mais conhecida a terapia cognitivo-comportamental (TCC). Atualmente, a efif cácia da intervenc a o psicolo gica encontra-se amplamente demonstrada pela literatura científica, comprovando o seu papel no ali vio do sofrimento associado aos problemas de saúde psicológica e na redução das conseque ncias sociais e econo micas.

Segundo a ordem dos psicólogos portugueses, a psicoterapia consiste num método que engloba um conjunto de técnicas e procedimentos, fundamentados em evidência científica e orientados por princípios éticos, com o propósito de modificar comportamentos, pensamentos e emoções, visando a redução do sofrimento psicológico e a promoção do desenvolvimento pessoal e do bem-estar. A psicoterapia da infância proporciona um espaço adequado para compreender e potenciar o desenvolvimento e a expressão das vivências e sentimentos que geram sintomas e mal-estar na criança. Trata-se de uma intervenção terapêutica bem estabelecida e especializada que considera os factores inerentes ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança/jovem para responder às suas necessidades, considerando a faixa etária, a dinâmica familiar, as circunstâncias específicas de vida e o mundo que a rodeia. Pode ser realizada em contexto público ou privado, como os centros de saúde, as clínicas ou os hospitais.

Ao longo da terapia, os pais, a família e/ou outros prestadores de cuidados devem funcionar como coterapeutas, sendo esta parelha especialmente pertinente para uma compreensão e intervenção mais personalizada dos sinais e sintomas da criança e para garantir que as novas competências são utilizadas em casa, na escola e noutros contextos. Em algumas situações, a combinação da psicoterapia com a farmacoterapia pode ser necessária para otimizar a eficácia do tratamento, especialmente em casos de maior gravidade ou quando há um comprometimento significativo do funcionamento emocional e comportamental da criança ou jovem.

A literatura demonstra que existem diferenças nas práticas baseadas em evidências identificadas para

A psicoterapia na infância não é uma solução mágica, mas um processo complexo

crianças mais novas em relação às crianças mais velhas ou adolescentes para vários problemas, com impacto diferenciado do envolvimento dos pais. A TCC e o treino parental e a intervenção familiar, em conjunto com uma boa aliança terapêutica encontram bons resultados. A psicoterapia torna-se mais eficaz quando a criança se sente à vontade para confiar e expressar o que sente, tornando o tempo de terapia num momento só da criança.

O terapeuta exerce a função de facilitador, sendo capaz de identifif car as dificuldades e auxiliar na procura de melhores alternativas, ao mesmo tempo que orienta os pais sobre como agirem perante as dificuldades da criança, que muitas vezes advêm de dificuldades encontradas dentro da família.

No caso das crianças pequenas, as intervenções precoces que se centram no treino de competências demonstraram ser muito eficazes. É comum recorrer-se à terapia baseada no jogo, dado expressarem-se melhor através daquilo que consideram brincadeira. Este tipo de terapia, sempre orientada, envolve o uso de brinquedos, desenhos e jogos para ajudar a criança a identificar temas difíceis, além de reconhecer, identificar e verbalizar sentimentos e ensinar competências sociais e emocionais essenciais para tornarse mais f exível e resiliente. Através de uma combinação da conversação terapêutica e do brincar, a criança tem a oportunidade de compreender e gerir melhor os seus conf itos, sentimentos e comportamentos, reduzir os comportamentos agressivos, resolver problemas, ou lidar com situações de stress (como o divórcio dos pais ou o luto), de modo a dar novos significados aos seus sentimentos e emoções.

A psicoterapia na infância não é uma solução rápida ou mágica, mas um processo complexo que procura reduzir os sintomas e proporcionar qualidade de vida à criança. O recurso a este tipo de ajuda com sucesso é preventivo do desenvolvimento de dificuldades emocionais no adulto.

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