Para Dostoiévski, as Noites eram Brancas, envoltas na melancolia dos sonhos irrealizados e na efemeridade do amor platônico, onde a solidão se dissolve em devaneios, apenas para ser reafirmada ao amanhecer.
Para Kafka, o processo era infinito, e a condição humana, um labirinto de burocracia e culpa, onde a busca por justiça se converte em absurdo, e o indivíduo se dissolve em um sistema que o julga sem explicação, sem redenção, sem saída.
Para Camus, o estrangeiro era o próprio homem, um ser exilado em sua própria existência, condenado a uma liberdade que não pediu e a uma lucidez que o distancia do mundo, onde o sol escaldante sobre um corpo morto pode decidir um destino.
Para Joyce, o Ulisses moderno vagava por Dublin, mas sua odisseia não se fazia em mares revoltos, e sim na linguagem, na consciência fragmentada e nas epifanias do cotidiano, onde cada instante, por mais banal, carrega o peso e a complexidade do universo.
Para Nietzsche, Zaratustra falava, mas poucos o ouviam; suas palavras anunciavam o fim dos velhos deuses e a necessidade de criar novos valores, pois aquele que ousa olhar para o abismo deve estar pronto para se tornar algo além do humano, para dançar sobre o caos sem temê-lo.
Para Mann, a montanha era mágica, um microcosmo onde o tempo se distorcia, onde a tuberculose era metáfora da decadência europeia, e onde a contemplação da morte se misturava ao desejo pelo sublime, em um eterno diálogo entre a razão e a febre.
Para Borges, o Aleph continha tudo, e em um único ponto do espaço estavam contidas todas as experiências, todos os tempos, todas as histórias já contadas e por contar, pois o infinito não é algo além de nós, mas aquilo que se reflete em cada palavra, em cada livro, em cada pensamento.
Para Virginia Woolf, a senhora Dalloway comprava flores, e nesse gesto trivial estava encapsulada toda a fragilidade da existência, a passagem inexorável do tempo e a necessidade de reafirmar, através dos rituais do dia a dia, uma identidade sempre à beira da dissolução.
Para Pessoa, o desassossego era uma condição natural, pois não há um único eu, mas múltiplos, que coexistem e se contradizem, que escrevem versos sob heterônimos como quem busca escapar de si mesmo, apenas para descobrir que o abismo interior é infinito e inexorável.
E para o leitor, cada página é um espelho onde o tempo, a solidão, o destino e a existência se refletem, aguardando que sua alma, por um instante, se perca e se encontre entre as palavras.
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