A beleza e a juventude são dádivas efêmeras que, paradoxalmente, só revelam sua plena significação à medida que se esvaem. Enquanto habitam o presente, são tratadas com indiferença ou mesmo desprezo, como se fossem atributos permanentes, propriedades naturais da existência. No entanto, quando o tempo, esse escultor inexorável, começa a desgastá-las, despertam uma ânsia melancólica, um desejo insaciável de resgate, como se fosse possível deter a marcha inevitável da finitude.
O erro fundamental reside na ilusão da posse. O jovem e o belo vivem como se fossem eternos, esquecendo-se de que aquilo que não é construído pela consciência não pode ser verdadeiramente valorizado. A juventude, com seu vigor irrefletido, e a beleza, com seu esplendor inconsciente, são dons que o tempo empresta e que a maturidade cobra com juros implacáveis. Só quando a areia da ampulheta começa a se acumular do outro lado é que surge a percepção do que foi perdido, e, com ela, o desespero daqueles que não souberam apreciar o instante.
O desespero pelo retorno daquilo que se foi revela uma incompreensão da natureza da vida. A tragédia não está no envelhecimento ou no ocaso da beleza, mas na recusa em aceitá-los como partes naturais da jornada humana. O culto ao passado, e a recusa em abraçar a transformação, é o reflexo de um espírito que não amadureceu. Quem busca desesperadamente rejuvenescer o corpo sem enriquecer a alma nada mais faz do que tentar aprisionar o rio do tempo em um frasco de vidro, ignorando que sua beleza está justamente no seu fluxo incessante.
Há, no entanto, uma alternativa à nostalgia estéril e ao desespero vaidoso: a transfiguração do olhar. Aqueles que compreendem a essência da existência sabem que há formas de juventude que não dependem da carne, e que a beleza pode se reinventar em outros âmbitos. O brilho da experiência, a serenidade do espírito e a profundidade do pensamento são formas de esplendor que resistem ao tempo. Só aquele que aceita a transitoriedade da vida pode encontrar, naquilo que vem após a juventude e a beleza física, uma beleza mais rara e duradoura, a da plenitude e da sabedoria.
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