quinta-feira, 15 de maio de 2025

Ainda sobre a Morte de Dom Quixote!

 A Morte de Dom Quixote

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A sua morte no romance de Miguel de Cervantes não é apenas o encerramento de uma narrativa, mas um ato simbólico carregado de significados filosóficos e literários.
O desfecho marca o retorno de Alonso Quijano à lucidez, em um momento de resignação e aceitação de sua condição mortal.
Essa volta à razão, contudo, também representa o fim de sua essência quixotesca a negação da realidade em prol de um ideal.
Cervantes utiliza a morte do personagem para refletir sobre os limites entre sanidade e loucura, fantasia e realidade, e a inevitável passagem do tempo.
Historicamente, Quixote surge num período de transição cultural, quando os ideais medievais de cavalaria e heroísmo estão em declínio, sendo substituídos por valores mais pragmáticos do Renascimento e da modernidade emergente.
A morte do cavaleiro errante, portanto, pode ser vista como uma alegoria do fim de uma era romântica e a chegada de uma visão mais desencantada do mundo.
Ao mesmo tempo, a decisão de Cervantes de "matar" seu personagem também possui uma dimensão metatextual.
Isso se relaciona à rivalidade literária com Alonso Fernández de Avellaneda, autor de uma continuação apócrifa de Dom Quixote.
Ao finalizar a vida do cavaleiro, Cervantes garante a integridade de sua criação, fechando qualquer possibilidade de apropriação por terceiros.
Assim a sua morte transcende sua literalidade e permanece como uma metáfora rica para os dilemas humanos.
Ela nos convida a refletir sobre a fragilidade da existência, o poder transformador da imaginação e a coragem de desafiar os limites impostos pela realidade, mesmo diante da certeza de nossa finitude.
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