sábado, 17 de maio de 2025

Nós e a tecnologia!

 

Uma relação saudável com a tecnologia começa nas pessoas

A construção de vínculos afetivos seguros é a base invisível que sustenta o crescimento, a resiliência e a segurança das crianças. Todos os pais e mães tentam fazer o melhor pelos seus filhos, enquanto procuram compreender o mundo complexo em que as crianças estão a crescer. Para muitos, sabendo menos do mundo digital do que as próprias crianças, a boa notícia é que a criação de uma relação saudável com a tecnologia não começa nos dispositivos, mas nas pessoas.

As crianças e os adolescentes que crescem em ambientes seguros, com regras claras e adultos emocionalmente disponíveis, tendem a desenvolver maior capacidade de autorregulação, de estabelecer limites e de lidar com frustrações — incluindo aquelas que surgem no mundo digital.

Nas últimas semanas, ouvimos especialistas, famílias e jovens, na campanha “Segurança na rede, rede de segurança”, lançada pela Unicef Portugal para promover a proteção e o bem-estar digital de crianças e adolescentes. Algumas ideias ficaram claras: as crianças sentem-se mais seguras quando o mundo à sua volta é previsível e estruturado. A criação de rotinas livres de ecrãs — durante o tempo em família, ao final do dia e antes de ir dormir — com tempo para atividades físicas são passos simples, mas transformadores. Estabelecer regras claras desde cedo e introduzir as tecnologias de forma gradual, não é limitar: é proteger.

As ferramentas de controlo parental são importantes e não põem em causa a liberdade ou a privacidade. São aliadas da proteção para ajudar a criança a desenvolver um uso progressivo, autónomo e responsável da tecnologia, num ambiente de confiança.

Contudo, a proibição deve ser debatida e ponderada. Esta, tantas vezes sentida e falada como solução, pode criar expetativas de proteção irrealistas.

O mundo digital continua amplamente desregulado. Com o aumento do acesso à Internet, há um crescimento exponencial na exposição das crianças a mensagens de ódio, imagens violentas ou conteúdos de cariz sexual. Os esforços para regulamentar o conteúdo e restringir o acesso de crianças a esse material não estão a acompanhar as mudanças tecnológicas. É fundamental recentrar o debate na prevenção junto das famílias, nas escolas e na sociedade, lembrando que a presença e o apoio podem fazer a diferença, antes que surjam situações extremas.

Uma parte essencial da prevenção passa pela educação emocional. Ensinar crianças e adolescentes a reconhecer e regular emoções, a interpretar o outro com empatia, é um dos caminhos mais sólidos para prevenir situações como o cyberbullying. As escolas, ao lado das famílias, têm um papel essencial — a literacia digital é também transmitir valores, como a dignidade, respeito, diversidade e responsabilidade, para a construção de relações saudáveis e seguras, em todos os contextos.

A rede de segurança deve envolver também as empresas tecnológicas, que não podem ignorar o impacto que têm no desenvolvimento emocional e físico das crianças.

As próprias crianças e os jovens têm de ser envolvidos. Ouvir as crianças e incorporar verdadeiramente as suas perspetivas permite criar medidas mais justas, eficazes e alinhadas com o que sentem, precisam e conhecem.

Os desafios mudam com as gerações. As crianças de hoje vivem num mundo digital que os seus pais e avós não conheceram na infância. Mas as necessidades de base são as mesmas.

A segurança digital constrói-se com empatia, presença real e comunicação aberta.

Directora de Políticas de Infância e Juventude na Unicef Portugal

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