Nas redes sociais, ser ignorado leva a mais discussões entre amigos
As redes sociais trazem “novas exigências” para as amizades adolescentes e podem levar a discussões entre amigos, sobretudo quando se sentem ignorados
- Público - Edição Lisboa
- Claudia Carvalho Silva
Imagine que está nas redes sociais e vê uma story de um amigo próximo a passear com outros amigos, sem que tenha sido convidado. Ou imagine que precisa mesmo de falar com alguém e a sua amiga a quem dá sempre apoio não lhe está a responder. Estes são alguns dos cenários em que as redes sociais podem contribuir para que haja conflitos nas amizades entre adolescentes, segundo um estudo publicado na terça-feira na revista científica Frontiers in Digital Health. E mais: as redes sociais podem transformar as amizades naquilo que parece ser um trabalho a tempo inteiro.
“Os amigos desenvolvem certas expectativas sobre a forma como devem interagir, incluindo esta disponibilidade recíproca em pessoa e nas redes sociais, que é essencial para manter relações durante a adolescência”, refere a principal autora do estudo, Federica Angelini, em resposta ao P3. Só que as redes sociais amplificaram estas necessidades que existiam presencialmente, introduzindo “novas exigências”.
Com essas exigências surgem também expectativas daquele que deve ser o comportamento dos outros nas redes sociais. E foi isso que os investigadores da Universidade de Pádua, na Itália, perceberam: os conflitos
online entre amigos surgem sobretudo na sequência de expectativas não correspondidas e não tanto pela pressão para estar constantemente disponível online.
Damos alguns exemplos destas expectativas não correspondidas: um amigo que não dá like ou comenta as publicações do amigo, que ignora as suas mensagens apesar de estar online, que o exclui de actividades que tem com outras pessoas, ou até mesmo se não reconhecer que foi mencionado numa publicação, explica a autora. Se isso acontecer, os adolescentes podem sentir-se irritados ou desiludidos.
As conclusões deste artigo podem ajudar os pais, professores e os próprios adolescentes a desenvolverem hábitos online mais saudáveis. Por exemplo: estabelecer limites, definir tempos oëine ou desligar as notificações. “Aprender a aceitar que nem todas as mensagens requerem uma resposta imediata pode aliviar o stress digital e manter amizades saudáveis”, refere a investigadora do departamento de Psicologia do Desenvolvimento e Socialização da universidade italiana.
Além disso, se “falarem abertamente sobre aquilo que valorizam nas interacções online, os adolescentes podem desenvolver uma ideia melhor das perspectivas uns dos outros e evitar o risco de conflitos”, diz a autora.
Os adolescentes podem ser a faixa etária mais vulnerável às consequências negativas das interacções nas redes sociais, diz ainda o artigo.
Neste estudo foram analisados os dados de uso das redes sociais de mais de 1100 adolescentes em Itália, com idades entre os 13 e os 18 anos, focando-se no estado das amizades em dois momentos diferentes, com seis meses de separação.
Mediram com que frequência aconteciam estes conflitos, ou quando é que se sentiam “zangados ou irritados uns com os outros”, explica a investigadora, que estuda as relações durante a adolescência em contextos sociais online e offline.
Daí, os investigadores aperceberam-se de que as redes sociais facilitam as conexões entre adolescentes, mas também criam um novo espaço “normas sem precedentes e expectativas para estarem permanentemente disponíveis”.
Os cientistas reconhecem que a amizade é crucial nas nossas vidas e que o contacto online é importante, sobretudo para adolescentes —mas cultivar essas amizades num ambiente digital pode tornar-se fastidioso.
A ideia de estar constantemente disponível online também pode levar a uma sensação de “aprisionamento” nos jovens — que afecta mais as raparigas do que os rapazes, segundo o estudo.
Os adolescentes podem ser a faixa etária mais vulnerável às consequências negativas das interacções nas redes sociais, diz ainda o artigo. Outros estudos já têm mostrado que esta pressão para estar sempre disponível tem um efeito negativo na saúde mental, criando mais stress e ansiedade, e menor qualidade de sono.
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